Cavalls del Vent
100km - Com 13000 metros de desnível acumulado e 6800 metros de desnível positivo
Cavalls del Vent 2013
O principal objectivo de 2013
estava à porta, estávamos a 3 dias da prova e começamos os preparativos, a
lista de material obrigatório era enorme, e só 24h antes seria confirmado o que
levar durante a prova, pois dependia das condições meteorológicas mas havia que
levar tudo para lá.
Na quinta-feira, bem cedo começou
a aventura, em família e de carro arrancamos com destino a Lleida onde iríamos dormir para chegar a
Berga no dia seguinte de manhã. A viagem correu bem e com bom tempo, fizemos
várias paragens para "esticar" as pernas e alimentar bem, e pelas 20h
chegamos ao destino, fizemos o chek-in no hotel já reservado e descansar. No dia seguinte de
manhã em Lleida fiz o último treino antes da prova, corrida ligeira que serviu para
habituar ao fresco da manhã, às 7h estavam 7graus, terminado esse treino e depois de um bom banho e de
um robusto "desayuno" seguimos com destino a Berga, localidade que
seria o quartel-general nos próximos 3 dias. Chegamos a meio da manhã ao Berga
Resort (www.bergaresort.com). Entrados
na recepção, e depois de me perguntarem se vinha para fazer Cavalls del Vent, fomos
saudados por uma senhora que se encontrava de costas e que ouvira a conversa,
virou -se, e desejou-nos boas vindas ao Berga Resort e sorte para a prova que a prova seria muito difícil. Essa senhora, só era a Núria Picas, li depois que ela é
patrocinada pelo Berga Resort, que é também o local onde ela faz o Trail Camp.
Berga Resort |
No local onde estacionamos o carro, tinha um Mirador isolado onde parecíamos estar só nós, quando aconteceu a segunda surpresa. Vimos ao longe 2 pessoas a correr, acabavam de terminar o treino, quando se aproximaram, era o Miguel Heras e o Terry Conway, nova pequena conversa com o Heras onde veio a história com o Sá e o UTMB e desejos mútuos de boa prova. Tinha em poucas horas falado com os 2 prováveis vencedores da prova e duas pessoas muito acessíveis, seguimos pela montanha para conhecer o refúgio, na parte final a chegada era dura pois subia bastante e tive de a fazer com o David às cavalitas, no dia seguinte teria de ser a Cláudia a levá-lo.
Estasen |
Estavam vistos os postos de assistência, próxima paragem no supermercado para fazermos umas compras para os dias que íamos estar lá. Depois de um ligeiro descanso e almoço, fomos a Bagá levantar o dorsal. Bagá estava a 15km, e foi uma viagem rápida. Lá chegados, demos uma volta pela cidade, se é que é cidade, e fomos ao pavilhão levantar o Dorsal, tudo muito rápido e calmo. 1º foi o saco com o dorsal, a t-shirt e restantes lembranças, depois testar o chip, e de seguida foi-me informado qual o material obrigatório a levar na partida (que seria o normal), e depois das 17h (tínhamos que acrescentar camisola térmica, calças e buff). Estava feito! Tiramos umas fotos no local da partida e chegada, e no pavilhão e regressamos para o derradeiro descanso. Depois de jantar foi preparar o equipamento e a mochila, conferir o material e a alimentação que a Cláudia levaria aos 2 postos, e dormir!!!!!
Bagá |
Recolha de dorsal |
Dia da prova
Finalmente chegou o dia esperado,
eram 5h e começava a preparar o pequeno-almoço, aletria e croissant e também
sumo de laranja, depois foi equipar e seguir de carro para Bagá. Chegamos por
volta das 6.15h, a prova começava às 7h. Ainda era noite cerrada e estava muito
frio, o carro marcava 5º. Despedi-me da Cláudia que iria voltar a Berga, porque
o David ainda dormia, e fui para a zona de partida. Começou o nervoso miudinho!
Ligeiro aquecimento e fui às 6.40h para o "parque fechado". Consegui
ficar na parte da frente e só tinha na dianteira os favoritos. O local estava
dividido em 3 partes, no1º sector os principais favoritos (dorsais vermelhos),
no 2º sector os que tinham feito menos que 15h nas edições anteriores, e depois
no grande maralhal o pessoal de dorsal verde (eu e todos aqueles que fariam a
prova pela 1º vez, ou com tempo superior a 15h nas edições anteriores). Não
encontrei ninguém conhecido, mas vi na frente no 1º sector o Nuno Silva e a Natércia
Silvestre. Depois de algumas entrevistas aos favoritos, começou a famosa
música da prova: "The Gael" - o tema de o último dos moicanos, que antecede
a contagem para a partida. Arrepiante o momento!
Partida, Bagá |
Dada a partida, os primeiros
metros dentro de Bagá foram de loucos, grande velocidade de todos a passar por
todos, empurrões etc, era preciso entrar na 1º subida bem colocado para não
haver afunilamentos e consequentes paragens. Entrei bem colocado, nunca
precisei de parar nem de ir a "festo" para ultrapassar, sabia que o
início seria duro, seriam praticamente 12km sempre a subir até aos 2500m de
altitude, sentia-me bem e ia a um bom ritmo, mas sabia que não podia exagerar
senão iria pagar mais tarde. Ao chegar ao refúgio (Ninho da Águia) Niu de L'
Àliga (2500m) encontrei a Natércia Silvestre e acabamos a subida juntos, estava muito
frio e o vento era forte o que piorava a sensação de frio apesar de estar um lindo
dia de sol, a paisagem era fenomenal. O ambiente montanha acima era
excelente, o público apoiava de uma maneira que nunca tinha visto, corriam ao
nosso lado alguns metros, chamavam pelo nosso nome que estava no dorsal e isto
tudo com um frio de rachar. No PAC tinha as mãos tão frias que não conseguia
pegar em nada, tive de as aquecer um bocadinho na "panela do caldo"
para conseguir comer e beber. Comecei a descida com a Natércia, não a conhecia
pessoalmente mas foi muito agradável a conversa e ajudou a passar uns largos km
sem me aperceber, quando deixamos a descida mais técnica e lenta e entramos
numa zona de estradão perdi a Natércia de vista, ia a um ritmo muito rápido
para mim, tinha de gerir, e que bem que fiz em não ir naquele ritmo, pois entre
o km 30 e Km 40 foi a altura da prova que passei pior, talvez por
alimentação mal feita e má hidratação quando andava em altitudes mais baixas e também pelo calor que começava a fazer-se sentir. Cheguei ao PAC de Bellever com grande
desgaste, estávamos ao km 40 e ia com 5.45h de prova.
Hora de almoço |
Bellever era o principal posto,
onde a organização transportava o material dos atletas que não tinham assistência.
À entrada no pavilhão, eu e mais atletas fomos “fiscalizados” para a 1º revista,
telemóvel e manta térmica foi o pedido, tudo ok. Próximo objectivo encontrar a Cláudia
e o David, como sabe bem encontrar os nossos nessa fase menos boa. Depois foi
sentar e comer, a escolha era grande dividi-me entre massa com atum (com o
David a ajudar), pão com tomate, e muita fruta e líquidos.
Bellever |
Troquei de t-shirt e meias,
recuperei forças, despedi-me até Estasen, parti olhei para o dorsal que tinha o
perfil de cabeça para baixo o que permite ver em prova e preparei-me para nova
subida dura, desta vez seria do km 39 ao 53. De início em estradão, e depois em
trilho e pedra, sempre a levar com o sol em cima e o calor nessa altura era
forte. Todos os pontos de água eram aproveitados para molhar e refrescar, no
alto novamente a 2500m foi recuperar forças e descer praticamente até ao PAC de
Estasen onde estava novamente a Cláudia e o David. Tinha como objectivo chegar
antes de anoitecer, para a Cláudia não ter que, depois de me apoiar descer a
montanha até ao carro com o David às costas noite escura, o que seria
complicado. Desci, acho que, rápido demais, mais tarde sentiria esse exagero,
mas consegui! Cheguei pelas 18.30h, mais uma vez grande ambiente na chegada,
apoio fantástico em muitas zonas do percurso, e muitas delas de difícil acesso,
foi sem dúvida uma surpresa. Reconheço que os espanhóis têm uma cultura de
montanha muito à frente da nossa. Chegado ao PAC vejo novamente a Cláudia e o
David, que alegria! Estava a sentir-me bem e melhor fiquei, nova muda de roupa,
agora já para o frio da noite que se aproximava. Alimentar bem, e fiquei quase
novo.
Estasen |
Despedimo-nos com um "agora
o próximo encontro é na meta". Saí cheio de força, o corpo e a cabeça
estavam muito bem, confortavelmente fui passando os restantes PAC, fiz mais uma
paragem para colocar o frontal e já só pensava na chegada. Faltavam duas
subidas, uma delas mais técnica sempre a cruzar com um riacho que descia a
montanha. Acabei a última subida e sabia que seria descer até Bagá, no último
PAC e mais um controlo de material, perguntei como eram os últimos 12km, e foi
dito a um grupo de atletas que era estradão sempre a descer. Era de facto a
descer, agora o estradão era muito íngreme e de muita pedra solta. Nessa altura
tinha 1 objectivo, fazer menos de 17h e chegar antes da meia-noite, mas nesta
fase os quadríceps e joelhos já estavam a queixar-se, e foi uma parte dura até
chegar ao alcatrão, aí foi rolar sempre a 4.45/5 min/km e já se ouvia o barulho
da chegada. Os últimos 2km foram fantásticos, apoio de todas as pessoas, os
carros iam ao nosso lado a incentivar, as pessoas todas à porta de casa a
puxar por nós e finalmente entro nos últimos 200 metros em que a emoção e a
felicidade tomaram conta de mim. O ambiente era arrepiante e só me lembro de
cruzar a meta, consegui!!! Minutos antes tinha ligado à Cláudia a dizer que
estava a chegar, para saber onde se encontrava, pois queria passar a meta com o
David às cavalitas. Infelizmente ele já dormia, e com o frio que estava seria
uma maldade acordá-lo para esse fim. Cortada a meta foi-me dito que estava no
lugar 150º e em 33º no escalão. Que grande surpresa!
Chegada, Bagá |
Tinha corrido muito bem, tinha
conseguido fazer menos de 17h, e chegar antes da meia-noite. Estava muito
satisfeito com a prestação. Comi qualquer coisa na zona de chegada, e fui ter
com a Cláudia. Já só queria um abraço e um bom banho. De regresso a Berga a Cláudia
contou-me de todo o apoio que foi recebendo durante a prova da família e amigos,
com a informação via FB que tinha terminado comecei logo a receber
chamadas, fiquei ainda mais satisfeito ao saber que tanta gente seguiu via Facebook a prova.
Depois de um bom banho e de uma
refeição quentinha, foi uma noite de sono bem passada.
No dia seguinte acordei com umas
"ligeiras" dores nas pernas, mal me conseguia mexer, mas tinha o
prometido "prémio de jogo", um circuito de águas e uma massagem no
SPA do Berga Resort, e que bem que soube, saí de lá quase novo, o que me permitiu
durante a tarde passear e saborear esta vitória pessoal.
Os dias seguintes, foram para
umas curtas férias naquela zona, e por França. Por esse motivo, e também porque
fisicamente não estaria nas melhores condições não consegui estar presente no
GTSA, prova que quero fazer há já 2 anos. À terceira será de vez!
Dune du Pyla - Bordéus |
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