O 1.º objectivo do ano estava à
porta, ia decorrer no parque natural da Peneda do Gerês. A prova é diferente de todas as outras, é por etapas, 3 etapas em 3 dias, a 1.ª teria 35 km, a 2.ª
60 km e a 3.ª 12 km num total de 107km e 7000D+. A estratégia para esta prova seria
diferente é sempre uma novidade, nenhum dos 3 elementos que compunha a
equipa tinha feito uma prova por equipas.
Pedro Conde-Artur Costa-Vítor Penetra |
A prova começava sexta-feira de
manhã, mas fui para o Gerês na quinta-feira ao final do dia, assim seria mais
confortável levantar o dorsal e preparar as coisas para o dia seguinte, seria
um fim‑de‑semana em família apesar do tempo estar mau. Era esperada muita chuva principalmente para sexta e sábado, mas era o que estava marcado e assim foi. Na viagem, tivemos a companhia do Vítor Penetra, que juntamente com o Artur Costa e eu formamos a equipa Desnível Positivo. Durante a viagem fomos falando de como podíamos
encarar a prova, a gestão da mesma, principalmente da 1.ª etapa porque o
segundo dia sabíamos que seria muito duro.
Na chegada ao Gerês fomos logo
levantar o material o que decorreu de forma rápida e sem qualquer problema. 3
dorsais (um para cada etapa), corta-vento e uma pequena árvore vinham no saco. A ideia da árvore foi muito original, seria dada uma a cada atleta para ser plantada,
desta forma varias dezenas de árvores irão crescer num pais tão devastado pelo
fogo! De seguida fomos à Residencial Ribeiro onde tão amavelmente fomos
tratados naqueles 3 dias, e de seguida jantar ao centro da vila. Era importante
descansar bem, os dias seguintes iam ser para duros!!!
1.ª Etapa |
1.ª Etapa - 13º lugar - 4.31h
No primeiro dia estava marcada
uma etapa de 35km, com 2500m de desnível positivo (D+), o dia estava cinzento e o pequeno almoço foi o encontro com a restante equipa Desnível Positivo que também
fez daquela residencial "quartel general" depois daquele momento agradável
fomos equipar e preparar o material para seguirmos para a zona de partida, como
as previsões eram de chuva o impermeável (sempre obrigatório com este tempo) e uma segunda camisola
seria importante levar na mochila além do restante material imposto pela
organização.
Já na zona de partida encontramos
vários amigos destas andanças, o ambiente do Trail é muito diferente, todos
falam com todos, fotos de grupo, com os atletas de elite, etc....controle feito
e preparados para etapa, estratégia definida, que seria gerir mas ao
mesmo tempo andar bem, era importante não deixar as forças todas logo no 1.ª
dia, até porque no dia seguinte vinha a etapa "rainha".
A partida foi dada às 11h pelo
organizador e principal responsável da prova o Carlos Sá. Saímos na frente do
pelotão, e os primeiros km foram sempre em alcatrão e bastante rápidos, alias
foi uma etapa muito rolante, mesmo a subir dava para rolar bem, o que neste
caso não é bem ao meu gosto, mas fizemos os primeiros 20km a bom ritmo, a parte
final devido a brincadeiras infantis feitas por anormais (que têm cabeça mas
nada dentro) andaram a alterar o sentido das marcações e a retirar fitas. Face à chuva que entretanto começou a cair e também algum cansaço deixamos o ritmo cair
ligeiramente. De qualquer das formas fizemos 10º da geral. Confesso que devido
ao facto de ser um percurso muito rolante o desgaste que me causou foi maior do
que estava a contar, mas o tempo final de 4.31h estava dentro do esperado, estávamos
com a 1ª etapa concluída e andamos os 3 sempre juntos a puxar e a incentivar. O espírito de uma verdadeira equipa.
Final da 1.ª etapa |
No final, depois de algumas fotos
e conversa com outro pessoal que já se encontrava naquela zona, rapidamente
fomos tomar banho porque era importante não apanhar frio e até aquecer.
Reunidos novamente na recepção da Residencial foi assim que andamos estes 3
dias, sempre o "team" junto, fomos jantar cedo era preciso descansar,
a próxima etapa seria ás 6h.
2.ª Etapa - 9º lugar - 10.33h
Esta era a etapa rainha, a ultra
etapa, 60km com 4000m de D+, o despertador estava para a 4.45h, obviamente era
noite escura quando descemos para o pequeno-almoço, chovia intensamente desde o
dia anterior e assim foi a noite toda, depois do pequeno-almoço que reforcei no
quarto com aletria, pois o dia seria longo e duro, verifiquei o material. Tudo
pronto! Impermeável vestido, frontal na cabeça lá nos dirigimos para a partida,
continuava a chover forte, já prevíamos uma etapa ainda mais dura. Na chegada à zona de partida fomos encaminhados para o auditório onde o Carlos Sá fez
algumas considerações e recomendações sobre a etapa, mas mal saímos do
auditório foi dada a partida, não era recomendável estar ali a levar com tanta
água parados.
Partida dada e desta vez o inicio
foi mais calmo tínhamos muitos km pela frente e bem duros, na parte inicial e
logo antes do 1º abastecimento conseguimos perder-nos, não por falha de
marcação mas por distracção nossa, perdemos algum tempo, quando chegamos
ao 1º PA fiquei surpreendido, eram cerca de 7h da manhã e um grande panelão de
sopa com um aspecto muito bom estava à nossa espera, lá foi uma tigela, estava
tão quente que tive de misturar água, senão nunca mais saia dali, mas soube
muito bem, pena não ter havido mais. Depois deste posto começamos a correr a um
ritmo mais certo e rápido, passamos umas equipas, e entramos em zonas mais
técnicas, ao lado de belas quedas de agua, zonas de pedra escorregadia ainda para mais com aquela chuva, ribeiros, barragens, vales de uma beleza incrível, foram as vista desta etapa,
claro que também muita lama, água (gelada) principalmente nas partes altas,
muito vento, e bastante frio, até porque estávamos molhados quer da chuva quer
do suor, estas condições climatéricas tornaram a etapa ainda mais dura.
Tínhamos 3 subidas duras e
longas de vários km, fomos passando estes obstáculos um a um e sempre juntos,
ajuda mútua era importante, e de PA em PA continuávamos em bom ritmo, passamos
a barragem de Vilarinho das Furnas e começamos a longa subida da Serra Amarela,
vista deslumbrante e sossego absoluto, pena as nuvens baixas e a chuva não
deixarem ver o verde que nos rodeava, felizmente já tinha tido a sorte de fazer
esta parte do percurso com o Carlos Sá em Dezembro e num dia de sol. Incríveis as
paisagens, aconselho uma visita a este parque natural.
Depois de passada a Serra Amarela
e já na descida finalmente apareceu o sol e que bem que soube, parece que
ganhamos novas forças, e lá continuamos em bom ritmo novamente a descer e com a
barragem de Vilarinho ao fundo, seguíamos agora para a última dificuldade
do dia a subida da Calcedónia. No abastecimento anterior por causa do telemóvel
distraí-me um pouco e consequentemente má alimentação, iniciamos a subida a bom
ritmo e mantivemos esse ritmo durante toda a subida, mas era dura, muita pedra,
era preciso saltar entre pedras, escadas naturais daquela zona, o típico
penedo, e passar por fendas, isto já no final junto da famosa "Fenda da Calcedónia",
infelizmente não passamos pelo seu interior por questões de segurança que
percebo perfeitamente.
Zona da Fenda da Calcedónia |
E estava feita a etapa principal em
10.33h, dura.....mas em equipa unida é mais fácil ultrapassar os obstáculos!
Exactamente como no dia anterior,
banho e jantar em equipa. Por volta das 21.30h fomos ao auditório assistir aos
melhores momentos dos 2 dias e também a um "bate papo" com as duplas
das 3 primeiras equipas da classificação geral da prova principal, a dos 107km,
momentos divertidos antes do descanso.
Final da 2.ª etapa |
3.° Etapa - 9º lugar - 1.22h
Esta etapa era a mais curta e
claramente a mais simples, tinha somente um início brutal, com 3km sempre a
subir muito, autenticas rampas, e praticamente a totalidade do D+ 800m, apesar de ser uma etapa curta o
material obrigatório era o mesmo das outras etapas. Concordo!
Depois de uma boa noite de sono,
toca a acordar às 9.00h, depois de um agradável pequeno-almoço, desta vez já
com sol. E como o Gerês fica mais bonito com sol! Fomos para a zona de saída, a
partida foi dada às 10.30h, e depois de uma volta à Vila do Gerês a ritmos de
estrada, o 1º km foi feito a 4.30m/km, mas a entrada na subida ainda no centro
da vila é uma grande "pancada" faz lembrar no ciclismo aquelas etapas
que terminam em alto com uma subida final curta em que entram todos a bom ritmo
e se começam a “espalhar” perante a subida, aqui também foi assim, entrei a um
ritmo alto mas rapidamente vi que era exagerado e comecei a gerir, passado uns
minutos já tinha estabilizado e já subia a ritmo constante, mas próximo do
máximo, as dores de pernas eram enormes, parece que o ar para respirar não
chega mas eram só 12km e podiam haver estes exageros. Depois de chegarmos ao
alto de Pedra Bela, foi praticamente sempre a fundo novamente até à Vila, a descida
foi feita de forma bastante acelerada, os travões até aqueceram, mas lá
estávamos 1.22h novamente na meta, 14 minutos depois dos vencedores da etapa, e
em 8º lugar de geral.
3.ª etapa |
A equipa com o Carlos Sá |
No final a organização tinha
preparado uma surpresa, depois dos parabéns dados pelo Carlos Sá, vai buscar
uma medalha personalizada com a foto dos 3 elementos da equipa e coloca-nos ao
pescoço, são chamados os pormenores de classe a que o Carlos já nos habitou.
A medalha de finisher |
O ambiente no final era fantástico,
o speaker ajuda à festa, muitas caras conhecidas, deu para encontrar, falar e
até conhecer novos elementos da APT, trocar umas ideias com o “comandante”
Paulo Pires, ele que além da parte “técnica/táctica” fez um grande trabalho
fotográfico.
Considerações finais!
Depois de recompostos fomos para
a zona de meta onde seriam entregues os prémios aos primeiros classificados, mas
antes fui surpreendido, estava um rancho folclórico a actuar e vi o Carlos Sá e
o Armando Teixeira e até o Philipp Reiter a dançar "o vira" lá no
meio, de facto o Trail faz estes ambientes e todos convivem, o primeiro com o último, e o último com o primeiro. Ambiente único! Este fim‑de‑semana assisti e participei numa
prova de Trail no seu estado mais puro.
Depois de um almoço volante e
alguma conversa foi fazer o regresso a casa, havia que descansar um pouco, pois
no dia seguinte era segunda-feira.
Aproveito para dar os parabéns ao
Carlos Sá e a toda a sua equipa que tornaram este fim‑de‑semana fantástico, uma
organização exemplar, trilhos para correr e dos mais belos que tenho visto, os
voluntários 5*, sempre prontos a ajudar e a incentivar, tenho de salientar a
Natália Amoedo, o Bruno Querido e o Nuno Gavinho, que ainda vinham ter com os atletas antes dos abastecimentos e corriam ao nosso lado até lá, também aos irmãos
Pereira que fizeram um grande, duro e “alegre” trabalho a colocar e retirar
fitas.
Tenho a certeza que esta prova
tem tudo para no futuro se tornar na Meca do Trail nacional e uma das melhoras
da Europa, o Gerês merece!
Em termos pessoais vi que ainda
estou a baixo daquilo pretendido, mas ainda temos 10 semanas para afinar a
máquina até ao objectivo principal do ano, as 100 milhas no Ehunmilak. Antes
ainda passo nos Açores pelo Faial para 50km e por Chamonix para o Km Vertical e Maratona do Monte-Branco.
Aos meus colegas de equipa, vocês
foram fantásticos Vítor e Artur, passamos 3 dias excelentes, o espírito foi o
que esperava, a entreajuda do melhor, a vossa qualidade como atletas nem se
fala, com vocês estou disponível para novas aventuras, obrigado pela vossa
companhia, fomos enormes.
Também envio um abraço a todos os
atletas presentes da Desnível Positivo, e foram muitos, todos juntos fazemos a
diferença!
D+ |
2.ª etapa |
Família |
Obrigado Pedro, excelente relato, adorei imenso partilhar estes dias contigo e até a mesa com a tua família. Fiquei muito surpreendido com a tua recuperação entre provas e com a tua força de vontade, julgo que estás muito bem para as 100 milhas, disso não tenho dúvidas! Acredita em ti!
ResponderEliminarObrigado pelas palavras companheiro, estamos os 3 no bom caminho para o objectivo do ano, as 100milhas ;)
EliminarBoas Pedro....muitos parabéns por mais este desafio ultrapassado, e pelo excelente resultado obtido. Vocês são uma verdadeiras máquina, adorei o espirito de equipa (é disto que eu gosto)!!! Segui com algum interesse esta prova, pois o facto de ser no Gerês, organizado pelo Carlos Sá e de ser uma prova diferente do habitual (por equipas, por etapas, etc) despertou-me a atenção. Os relatos que fui lendo (como o teu), deixaram-me com "água na boca", e pode ser que para o ano, arranje 2 marmanjos que se queiram juntar a mim para ir aí desafiar a prova, só para acabar, o que para o meu nível já de si seria uma grande vitória :)
ResponderEliminarGrande abraço e muita força para os desafios que se avizinham
Obrigado Carlos, sem dúvida que foi uma grande prova e 3 dias de convívio entre todos. Acho que fazes muito bem em pensar desafiar esta prova para o ano, e só precisas de mais um "marmanjo" :)
ResponderEliminarBons treinos, abraço!