sábado, 5 de julho de 2014

Mont-Blanc Marathon- Skyrunning World Championships - Chamonix

Depois de ter estado em Chamonix em Agosto de 2013 a treinar com um grupo liderado pelo Carlos Sá, e, logo no 1º dia, termos feito o KM Vertical (KMV)  - esta prova consiste em fazer no menor tempo possível 1000 metros de desnível positivo em 3.8km - fiquei de imediato com a certeza que queria experimentar aquela "parede" em competição. Esta é uma prova com muita procura porque além de se realizar na Meca do trail running mundial também decide os campeões do mundo de Skyrunning. Estive atento, e fiz a inscrição minutos depois de abrirem, 1º no KMV e depois na Maratona, a verdade é que entre a maratona e os 80km preferia a prova mais longa mas como queria muito estar no KMV que começava na 6ªf e os 80km também, não eram compatíveis.
KMV
Foi em família que viajamos para Chamonix, primeiro de avião e depois de carro desde Genève. Chegados a Chamonix fomo-nos instalar no apartamento alugado para 1 semana, apartamento este que estava bem localizado, a 5 minutos do centro.
Era 4ªf depois de instalados e porque já era fim de tarde e estava um tempo excelente fui treinar e resolvi reconhecer o 1º KM da prova do KMV, já não me lembrava da dureza da subida, e o 1º km é o menos agressivo, as sensações foram boas, recordar aquelas montanhas quase 1 ano depois de lá ter estado, foi fantástico! Chamonix está sempre ligada aos desportos de montanha mas estes dias respirava-se trail nas ruas e era frequente cruzar-me com as principais figuras da modalidade.
Na 5ªf o dia foi para passear por Chamonix e ir levantar os dorsais para as 2 provas, estas grandes provas fazem com que quase toda a elite esteja presente, no trail é normal no levantamento dos dorsais na fila ao lado da que me encontrava estava por exemplo a Nuria Picas, a Fernanda Maciel, Emelie Forsberg ou o Luis Alberto Hernando e o Philipe Reiter, com o qual ainda troquei umas palavras!

Esta é sem dúvida uma grande organização, praticamente todas as marcas ligadas à modalidade estavam presentes quer de material, equipamentos ou alimentação. Depois de tudo tratado, e bem visto, foi altura de novo treino, este seria plano e no fim tentei ir fazer uma sessão de crioterapia na margem de um canal de água que vem do degelo da alta montanha (alguns colegas sabem bem do que falo) mas a corrente era tão forte e a agua estava tão gelada que não dava para mais, do que pôr os pés de molho, em sessões de 15 segundos!
Crioterapia

6ªf era o dia da 1ª prova o KMV, começava as 16h, mas como é ao cronometro, com saída individual de cada atleta, a cada 30 segundos, tinha de ir saber a que horas ia sairia. Fiquei a saber que seria às 17:30 ou seja 1h antes do Kilian, era excelente porque assim podia assistir à prova dele.
Depois de um almoço e lanche à base de massas, e com o nervoso miudinho a aparecer conforme a hora se aproximava, olhava para aquela montanha onde já se viam os atletas espalhados por aquela enormidade a cima, à distância não passavam de pequenos pontos na montanha.
17.30h e estava no local da saída, os atletas saiam com intervalos de 30 segundos controlados por um juiz e por um cronometro com "semáforo", o ambiente era incrível naquela praça até porque coincidia com a chegada da prova dos 80km, muita gente naquela zona. Chegava a hora, estava sozinho na partida a ver o relógio na contagem decrescente, a pulsação subi, semáforo verde e estava no início da prova mais curta em distância que tinha feito até à altura, sai rápido até porque com aquele apoio a adrenalina está no máximo, logo nos primeiros metros estava a minha família a apoiar e andei forte nos primeiros 300/400 metros, depois deitei mão à consciência, sabia que tinha que controlar o ritmo para não morrer na praia.
Partida KMV
Fui a correr praticamente até aos 300 metros de desnível, esta prova ao contrário das outras está marcada a cada 100 metros de desnível positivo. A prova é brutal, quer de dureza como de beleza, ao subirmos aquela montanha aos "S" com um desnível brutal e irmos vendo Chamonix a ficar para baixo é incrível, continuava muita gente espalhada pelo percurso, a frequência cardíaca andou sempre no "red line",  e aos 800 metros de altitude a prova entra na zona mais técnica, rocha na vertical com apoios em ferro para subirmos agarrados a cabos, rampas que temos de ir com as mãos no chão quando as dores de pernas já são fortes. É sem dúvida a parte mais difícil do percurso, quando já vemos o varandim do teleférico e nunca mais lá chegamos.....chegados ao teleférico temos umas séries de escadas e a recta da meta sempre a subir, está prova tem talvez uns 15/20 metros planos o resto é sempre com uma inclinação brutal, mas com a meta à vista ganhamos novas energias e até dá para aumentar um bocadinho o ritmo, mesmo no final vejo novamente a família que já tinha subido no teleférico, último esforço e cheguei 53 minutos depois de partir, experiência fantástica que nunca irei esquecer. Depois de recuperar um bocado e já conseguir falar para o speaker da prova e porque o vento era forte o que era desagradável principalmente para quem estava ensopado em suor fomos desta vez todos para o teleférico e voltamos de novo para Chamonix.
Logo na saída do teleférico começamos a ver os ultimos atletas e mais favoritos a passar e resolvemos ficar por ali a assistir, para meu espanto vejo a Emelie Forsberg a passar, nem queria acreditar, tinha acabado de ganhar a prova dos 80km 2h antes e já subia o KMV, (depois vim a saber que parou pouco à frente), o ritmo dos principais candidatos era impressionante, parecia que iam em plano, então o Kilian que iria ganhar a prova conseguia ir a um ritmo fortíssimo e ainda se dava ao luxo de falar e cumprimentar o público. Depois de passar o ultimo que era o vencedor do ano passado, o Saul A. Padua, continuamos o regresso ao apartamento, mas antes era preciso "queimar" aquele lactato acumulado naquela subida e fui fazer uma corridinha de 30 minutos a ver montras :)

Sábado era dia livre, depois de 40 minutos de uma corrida plana saímos de carro e fomos dar uma volta por aquela zona, Megève, Champex, Courmayeur, Gr-St-Bernard, Trient, Vallorcine e novamente Chamonix, passeio muito agradável!

Domingo era dia da maratona, conforme a organização avisou no dia anterior o mau tempo fazia-se sentir, chuva, frio e vento forte nas partes altas da prova, nesse sentido a organização alterou a ida ao ponto mais alto do percurso, a Aiguillete des Posettes, a partida era as 7h mas como eram 2200 atletas que iriam estar na saída resolvi ir mais cedo para não ficar na parte de trás do pelotão, o que acabou por acontecer é que fiquei junto do grupo de elite, o que provocou um início muito rápido, nada ao meu ritmo, e até senti algum desconforto nos primeiros km, até Valorcine ao km 18 o percurso era pouco acidentado, muito rolante e sem qualquer parte técnica, foram estes primeiros 18km que mais me custaram porque gosto mais das longas subidas, o que se verificou depois de passarmos no abastecimento de Valorcine, ai começou a 1ª grande subida da prova e lá no alto 2200 metros o frio com vento à mistura fizeram a sensação de frio acentuar, mas já estava no meu terreno, depois longa descida e novamente longa subida até Flégère, lá no alto a prova estava feita, agora era descer até Chamonix, essa foi uma alteração ao percurso, pois a prova estava prevista acabar em Planpraz a 2000 de altitude, onde acabou o KMV mas devido ao forte vento o teleférico estava parado e não havia maneira de trazer os atletas de volta a Chamonix, pelo menos foi está a explicação que ouvi!
A chegada a Chamonix e principalmente o último km foi com um ambiente fantástico, muito público na estrada a apoiar, e ouvir palavras de apoio em várias línguas inclusive muitas em português, o dorsal tinha a bandeira do país do atleta, deu uma adrenalina extra e o ritmo aumentava conforme a meta se aproximava e mais gente se acumulava, nós últimos metros ainda ouvi as palavras da família e mais "arrepiado" fiquei logo a seguir estava concluída a prova, 42km, 5.05h e 2500D+ depois tinha realizado um dos objectivos do ano correr em Chamonix numa que é das mais importantes provas a nível mundial. Foi uma experiência que será recordada para sempre.

Os restantes dias foram para gozar em família e aproveitar aquelas condições naturais fantásticas para treinar.

Agora segue-se a maior aventura da minha vida desportiva, as 100 milhas (170km) no ehunmilak. E em Agosto próximo estou de regresso a Chamonix para o UTMB e fazer a prova do CCC.

Chamonix

Emelie Forsberg



KMV
Anna Frost


 Stevie Kremer

Courmayeur






Chalet La Floria

Kilian
Champex - Lac
Gr-St-Bernard



Maratona