quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Ultra Trail Mt. Fuji - Japão

Quando há 6 meses atrás me inscrevi no Ultra Trail Mt Fuji nada fazia prever as contrariedades que aconteceram já nas últimas semanas.

Toda a preparação corria na perfeição até que 3 semanas antes da data da prova num treino longo surgiu uma dor no pé esquerdo que me obrigou a terminar o treino mais cedo. A partir dessa altura fui aconselhado pelo meu treinador o Paulo Pires só a fazer treinos de bicicleta e natação. Comecei os tratamentos tentando perceber a origem da dor que me afectava o tornozelo e calcanhar. Como a dor teimava em não desaparecer marquei uma ressonância magnética, isto já a menos de 8 dias da partida para o Japão, nessa altura havia a possibilidade de se tratar de uma fractura de stress, o que a ser confirmado impossibilitava a participação na prova.
O resultado confirmou que não havia qualquer fractura de stress, mas sim uma rotura parcial do ligamento do astrágalo-calcaneo e edema do componente tibio-navicular, e como este diagnóstico a 3 dias da partida, pouco ou nada havia a fazer.
Parto para o Japão em família e em férias, seriam 15 dias por terras do país do Sol nascente, o 1.º e único treino que fiz no Japão confirmou que as condições do pé não eram as melhores e ao fim de 40 minutos estava cheio de dores, o que me levava a perguntar como vou aguentar fazer 170km se 7 já são difíceis. 
Para juntar à festa a mala onde tinha o material para a prova estava  desaparecida e no aeroporto garantiram-me a entrega no hotel na 4ªf, dois dias antes da prova, mas ficava sempre a dúvida se seria assim ou não, e sem mala não havia prova. A verdade é que chegou conforme tinham dito e passou a ser menos um problema na cabeça.
2 dias antes da prova tinha acertado com o Paulo começar a tomar o anti-inflamatório na esperança que fizesse um milagre e me ajudasse a terminar. 

Nesta fase o descanso é fundamental mas como já não corria com desnível à cerca de 3 semanas fruto da lesão resolvi fazer uma caminhada em família pela montanha em frente de Fujikawaguchiko local onde está toda a logística assim como a partida e chegada, estava um autêntico dia de verão!


Na véspera da prova acordei com a chuva e um dia escuro, mas era preciso ir levantar o material e passar pelo controlo, tudo ok, aqui foram muito cuidadosos com o material obrigatório, posso dizer que estive  cerca de 20 minutos a mostrar peça por peça e eles a inspeccionar se estava tudo ok.


Nesse dia na zona da exposição da prova vi que havia uma tenda especializada em kinesio e que comprando o produto para a zona específica do corpo eles faziam a colocação, então optei por pedir para me ligarem o tornozelo, sendo eu a fazer não ia ficar tão bem certamente, a sensação não era a melhor mas sentia mais confiança.
Entretanto continuava a chover, era assim desde manhã cedo e as previsões eram para continuar.
6ªf era o dia D, acordei bem disposto, pequeno almoço com reforço do típico arroz branco japonês e 2h antes da prova uma massa, estamos no Japão mas não é difícil comer ao nosso gosto.

Tudo preparado e siga para a linha de partida, continuava a chover, lá chegado era grande a concentração de atletas mas facilmente encontrei o Lourens, depois das fotos da praxe foi deslocar para a zona da partida, ainda houve tempo para uma curta conversa com a Fernanda Maciel que comentou "que saudades de ouvir falar português" e ouvir da voz do speaker que nessa manhã tinham sido avistados ursos na montanha e que aconselhavam o Bear Bell ou um spray, não liguei, mas o certo é que muitos Japoneses levavam um o que incomodava um bocado quem seguia por perto!


13h e era dada a partida, os primeiros km eram junto do lago em terreno plano e debaixo de chuva, depois foi entrar para a montanha onde a densa vegetação e arvoredo não permitiam ver quase nada nem mesmo o sol lá penetra, só mesmo pingas grossa da chuva caiam constantemente, e como estava um dia cinzento e com uma humidade máxima (100%) o piso estava muito pesado e escorregadio. 

Era este o pior cenário para o meu pé, definitivamente nada queria ajudar, continuei em bom ritmo na fase inicial no sobe e desce e depois em muitos km planos de alcatrão (ao lado de carros) e estradões, nada ao meu gosto, prefiro provas com longas subidas e descidas, mas aqui sabia que o jogo era este e tinha de o combater até ao fim.


A chuva continuava a cair, e já noite dentro apareceu pelo que sei a grande dificuldade de toda a prova uma subida muito agressiva com percentagens de inclinação quase sempre acima dos 30% e com muita lama que para avançar não era fácil, dava 2 passos à frente e 1 atrás, mas o pior estava para vir pois chegando ao alto estava a descida que tinha a mesma inclinação e era um rio de lama. Toda a gente a cair, passei por atletas que iam contra as árvores e tinham a cara toda ensanguentada, outros em desespero pois não conseguiam descer, haviam zonas em que a queda lateral era grande e parar não era quando queríamos, posso dizer que cai mais vezes nestes 4km que em toda as provas de Trail que fiz até à data, foi extremamente desgastante tanto fisicamente como psicologicamente, o certo é que até ao início da subida já perto dos 50k o pé não tinha dado praticamente nenhum sinal mas nestes 8km e principalmente durante a descida tudo se transformou em pesadelo, o peso do corpo sobre o pé durante toda a descida, pois era impossível controlar o pé que usava para travar, as dores começaram a aparecer e cada vez mais fortes, tornando-se em algumas fases quase que insuportável, tinha de parar para respirar e tentar aliviar, aproveitava sempre que podia para molhar o pé no rio para tentar com a água gelada que as dores acalmassem mas era sol de pouca dura pois o pé arrefecia e ainda se tornava pior. 

Aos 70k pensava já em abandonar, sabia que era impossível fazer mais 100k naquele estado, só conseguia apoiar a parte da frente do pé e as dores no calcanhar eram muito fortes, parecia que me estavam a espetar facas, mas resolvi seguir, sabia que entre os 70k e os 77k o terreno era entre o plano e o pequeno sobe e desce, fui correndo e caminhado, depois dos 77k só tinha o novo posto aos 96k e resolvi continuar, tinha esperança que como estes km eram planos e em alcatrão as dores acalmassem e desse para prosseguir, mas o duro alcatrão também não ajudou e nada melhorei, nesta fase já não conseguia correr, a cerca de 5k do posto decidi que iria ficar por ali, então esses 5k foram um autêntico pesadelo, a juntar às dores no pé a cabeça deixou de ajudar e fisicamente caí no fundo, foi a arrastar-me e profundamente desiludido que cheguei ao posto.
Aí tive a sempre ingrata tarefa de entregar o chip e pedir o transporte para a meta.

Conforme um amigo disse esta prova estava "embargada" desde a lesão a 3 semanas, depois a mala e por fim a chuva e lama, era muito azar que ia fazendo moça e quando assim é o objectivo fica mais difícil, tentei lutar contra tudo, fiz 100k quando pensava que iria aguentar 20 ou 30k, e agora a frio estou convencido que se não é a chuva e a muita lama tinha concluído a prova, mas a meteorologia faz parte e temos que estar bem preparados fisicamente e psicologicamente para provas desta distância, dificilmente alguém com um problema físico a consegue terminar.

Serviu de aprendizagem para provas futuras, agora só resta seguir em frente e recuperar para em 2016 estar pronto para novos desafios!
Sobre o Japão, foi um país que me surpreendeu pela positiva, não tinha ideia que fosse o que encontrei. Povo extremamente educado, do mais amável que encontrei, com um sentido de civismo e respeito impressionante e que sabem preservar o que é deles. Outra coisa que me chamou a atenção é que ao contrário da Europa lá raramente se vê uma pessoa obesa, a grande maioria são pessoas elegantes!
Só um senão, raramente se consegue comunicar pois não falam qualquer outra língua, mas mesmo assim tentam ajudar de todas as formas!

Todas as cidades são extremamente limpas, incluio Tóquio que tem mais de 10 milhões de habitantes. 

Andei 8 dias com um carro alugado e foi uma experiência extremamente agradável, a condução é feita à esquerda e os carros conduzem-se à direita, mas até aqui nada complicado, não existem pressas, stress, e acima de tudo há muito respeito, a dificuldade foi não conseguir perceber algumas indicações que só estão em japonês :) 
Tóquio é uma cidade monumental, a sua grandeza é indescritível, nem fotos ou vídeos o demonstram só mesmo lá se pode apreciar aquela dimensão. Tem várias zonas centrais, todas com um ambiente fantástico, desde o distrito da tecnologia, ao da moda como ao das grandes marcas ou ainda o que mais me fascinou e um dos mais famosos que foi a zona de Shibuya, pelo ambiente que se vive, pela luz e som e ainda pelo famoso cruzamento onde em horas de ponta atravessam milhares de pessoas ao mesmo tempo em vários sentidos, é impressionante andar lá no meio.

O Japão é banhado pelo oceano Pacífico e também tem praias bonitas que se pode apreciar ao longo da estrada que acompanha a linha de costa, e podemos facilmente parar e dar uns mergulhos nas águas quentinhas.

O Pacifico


Deixo um conselho, não queiram ser portugueses no Japão, não critiquem como é habito a cerveja ou a comida local pondo defeitos e fazendo comparações, hábitos são hábitos e temos de os respeitar e apreciar, infiltrem-se e procurem conhecer as pessoas os hábitos e comer os típicos pratos, há para todos os gostos!

Tive uma data de experiências que me fascinaram nestes 15 dias, mas o principal foi mesmo ter conhecido um país e um povo que me vão deixar muitas saudades.





Em jeito de nota final e se pensas ir ao Japão para fazer SÓ o UTMF não aconselho, tens outras opções de provas certamente bem mais bonitas, mas se pensas ir como no meu caso em "regime de ferias desportivas" isso sim, não penses 2 vezes e arranca, no mínimo 2 semanas.

Eu voltava já amanhã :)
O meu muito obrigado ao "mister" Paulo Pires e à Cláudia por todo o apoio nesta prova tão atribulada!

Até 2016......


Tecnica!!!


??????


Tóquio

Tóquio

Kawaguchiko


Prozis
Dream Team 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Eiger Ultra Trail





O dia da prova aproximava-se e foi novamente em família que viajei para a Suiça, cheguei na 4ªf e nos 2 dias que antecediam a deslocação para a zona de Grindelwald  fiquei em Friburgo, o tempo estava excelente e esses 2 dias foram passados a passear entre lagos, Vevey, Murten, Moutreux, Evian les Bains, Gstaad e Neuchâtel, o dia acabava sempre em Murten com um treino ligeiro e banho no seu belo lago!

Murten


Na 6ªf parti para Grindelwald, o Eiger Ultra Trail já estava debaixo de olho à 1 ano, tive de optar entre esta prova e Lavaredo, que provavelmente fica para 2016, os Alpes fascinam-me e depois de muitos kms na zona do Monte Branco em Chamonix era altura para conhecer a parte Suíça desta bela cordilheira.

Já conhecia a zona de Interlaken mas em pleno Inverno onde o branco da neve predomina. Grindelwald fica a 20km, é uma típica aldeia alpina, onde impera o turismo ligado à natureza, existem muitas unidades hoteleiras e de restauração. A prova começa e acaba no centro desta vila.






Cheguei a Grindelwald e fui directamente levantar o material. Tudo estava concentrado no centro: as tendas, os dorsais, pasta party e a saída e chegada das 4 provas que estavam no programa. No levantamento do dorsal era feito de imediato o controle de material. A lista era extensa, tudo era verificado. Se calhar resultado do excesso de rigor Suíço, achei que havia coisas que não faziam muito sentido enquanto obrigatórias, como por exemplo, óculos de sol e uma segunda t-shirt!


Saído dali o próximo passo era descobrir o chalé onde íamos ficar. Não foi difícil! O Chalé era muito agradável e típico. Também famoso pelo seu pequeno-almoço “tipicamente” suíço!
Ainda antes do briefing, fomos conhecer os postos onde iria estar a família a dar assistência. Nesse aspecto a prova esta fantástica, a organização vende um passe onde o acompanhante pode andar em todos os meios de transporte da zona, e, a maioria dos postos, são acessíveis apenas de comboio ou de teleférico!
Grindelwald

Às 19.30h estava marcado o briefing. A organização enviou um email a avisar que era obrigatório, assim sendo estávamos praticamente todos os atletas presentes. Não houve qualquer controle de presença, mas pelo menos tinham a sala cheia. Aqui encontrei os 2 portugueses que faltavam na comitiva (o Diogo e o Manuel Maria), éramos ao todo 6 portugueses na prova principal. Nos 30 minutos que durou o briefing, nada de novo, a não ser a questão de meteorologia em que havia a possibilidade de uma tempestade de verão com chuva forte e trovoada.(o que veio a acontecer, felizmente já tinha terminado a prova, mas levando mesmo a organização a neutralizada e a encurtar, muitas atletas foram surpreendidos por este fenómeno)


Terminado o briefing era tempo de jantar e descansar. Amanhã o dia iria começar bem cedo!

3.00h da manhã toca o despertador, tomo o pequeno-almoço, para equipar e sair para a zona de partida, tinha combinado com o David Quelhas às 4.00h.
Já alinhados e preparados na 1ª fila, encontro o Christophe Le Saux que tinha conhecido nos 8 dias do Peneda-Geres Trail Adventure, um bocadinho de conversa e estava na hora de partida.

4.30h em ponto é dada a partida, não estivéssemos na Suíça. A 1ª hora de corrida além de rápida foi de noite, mas pouco passava das 5.00h e já tinha tirado o frontal, era dia.
Os primeiros 13km foram praticamente sempre em subida até First, paisagens muito bonitas ao nascer do dia. O ritmo continuava bom e cheguei a este posto com pouco mais de 3h de prova. Depois era uma descida até Bort, aqui iniciávamos a subida ao ponto mais alto da prova o Faulhorn a 2700 metros de altitude. A subida é dura mas até aqui nada técnico, e lá no alto a vista é fantástica sobre o vale de Interlaken. Desde este posto até Burglauenen era uma descida muito longa, cerca de 20km e nos primeiros 12/15km bastante técnica, com muita pedra, estreita e muito íngreme em algumas zonas. Durante a descida podíamos apreciar as vistas dos 2 lagos que separam Interlaken, muito bonito, quase que apetecia parar e deitar naquela relva a apreciar a paisagem.


Faulhorn
Chegado a Burglauenen, que era o posto principal da prova, tinha a Cláudia e o David à minha espera, é sempre bom nestas provas mais longas onde passamos muito tempo sozinhos, saber que estamos a ir ao encontro “dos nossos”  é um bom empurrão. Neste posto enquanto comia um esparguete e trocava de t-shirt e meias fiquei a par de como tinha corrido a prova do David. Da organização constava uma corrida para as crianças a partir dos 3 anos. Ele adorou e estava todo contente, até ganhou uma t-shirt oficial da prova, estas iniciativas deviam de acontecer muitas mais vezes, são importantes na formação das crianças!

Quando saio de Burglauenen tinha pela frente a dificuldade principal da prova uma subida de cerca de 17km onde íamos dos 800 até aos 2300 metros. Aqui o calor estava a fazer-se sentir, e nos últimos 6km de subida, que eram os mais duros comecei a sentir má disposição, foi em perda que já cheguei a Mannlichen, aqui parei mais tempo que o normal, cerca de 10 minutos para tentar descansar e comer, mas não estava a conseguir alimentar-me e até beber estava a ser complicado, mesmo a água fresca não caia bem. Só conseguia beber fast hydration, ao menos isso, queria evitar a todo o custo desidratar, por isso segui para o próximo posto sem comer nada.



Burglauenen
Lá chegado tinha novamente a família à espera e tinha esperanças que a coisa pudesse melhorar, a descer ainda rolava muito bem agora quando começava a subir parecia que me empurravam para baixo, não havia energia!
Ao chegar a Kleine Scheidegg o David veio ao meu encontro e ganhei novamente algum ânimo, apesar de não o conseguir acompanhar a subir L! Sabia que a partir daqui seria quase sempre a descer. Não consegui comer nada de novo, e optei por encher uma garrafa com coca-cola e outra com fast hydration, foi praticamente a minha alimentação até ao final.
Era sempre a descer até à subida final para Pfingstegg. Esta descida foi muito rápida, era uma daquelas que me dá prazer descer. Pelo meio encontrei a família que descida de comboio, e uma das estações era coincidente com um posto. Aí a Cláudia lembrou-se que tinha uma embalagem de papa de fruta que era para o David, comi, finalmente uma coisa que me caiu bem, era a energia que faltava para fazer a subida para Pfingstegg. Subida curta, com cerca de 3km, mas em algumas partes bastante dura. Cheguei ao topo novamente sem energia mas já via Grindewald e era sempre a descer até à meta. Os últimos 6km foram sempre no limite, tinha o objectivo de baixar das 16h. Nos metros finais fui novamente acompanhado pelo meu pequeno campeão que terminou a corrida ao meu lado e bastante mais fresco!
Meta

No final ainda deu para terminar abaixo das 16h, 1 minuto, mas deu.....que era o objectivo que me propus. 
Mesmo com estes contratempos consegui pela 1º vez fazer uma prova de 101km abaixo das 16h.
Tinha feito em 2013 Cavalls del Vent em 16:56H, em 2014 o CCC em 16:22h e agora o Eiger em 15:59h.

No final deu o 19º lugar no escalão e 51º da geral.

Já quando estava em fase de “recobro” recebo a excelente notícia que o meu amigo David Quelhas tinha feito 3º da geral, grande máquina, grande atleta, este “miúdo” tem um futuro muito promissor.

Resumindo, o Eiger Ultra Trail é uma prova que aconselho a fazer, com uma excelente organização e um percurso alpino fantástico, o ambiente que se vive em Grindelwald é muito agradável, assim como em alguns locais onde a prova passa. Além disso, estamos sempre a cruzar-nos com pessoas que caminham na montanha e que nos incentivam constantemente. A chegada a Grindelwald também é emotiva com muita gente a assistir e ao som dos famosos “badalos”.

"Um aparte, já fiz muitas provas em Portugal e no estrangeiro e continuo a ver a maioria das pessoas a não saber usar os bastões quando não os está a utilizar, os bastões não são armas para furar ou cegar quem vem atrás.... mais de 90% das pessoas não os utiliza correctamente , não é com as pontas viradas para trás, mas sim para a frente e para baixo, eu nunca usei, mas não parece ser difícil entender a lógica, começo a perceber o porque de algumas provas não permitirem o seu uso por questões de segurança."

Agora, começar a pensar e preparar a viagem ao país do sol nascente para o principal objectivo do ano, as 100milhas do Mt. Fuji no Japão a 25 de Setembro.

Aqui ficam mais algumas fotos:









quinta-feira, 18 de junho de 2015

Ultra Trail Stara Planina - Sérvia

Tudo começou quando o Darko, um amigo Sérvio do tempo do andebol que sabia desta minha nova actividade das corridas de montanha, me convidou para ir à Sérvia fazer uma prova que um amigo dele organiza. 
Não tinha grande informação da prova, e confesso que só mesmo dias antes da viagem vi o perfil, altimetria etc...
Altimetria/Perfil
As condições que a organização me apresentou eram bem interessantes para recusar, e a verdade é que nesse aspecto não tenho nada a apontar!
Tinha voo de Lisboa 5ªf as 8.30h o que me obrigava a dormir na véspera em Lisboa, nesse aspecto também não tive qualquer problema, fui extremamente bem recebido pelo casal Anabela Rodrigues e Paulo Reis, senti-me como em casa, só tenho que agradecer a simpática e atenciosa estadia!
Na chegada a Belgrado tenho o Darko à minha espera, foi um momento emotivo, fazia 12 anos que não nos víamos, depois de termos passado 4 anos juntos na mesma equipa de andebol e termos partilhado muitas histórias!!!
Foi muito agradável aquele 1º dia em Belgrado, demos uma pequena volta pela cidade onde jantamos e recordamos boas histórias do andebol, o calor fazia-se sentir e as esplanadas no centro de Belgrado estavam cheias.
Com o Darko
Nessa primeira noite fiquei num hotel que a organização arranjou pois na manhã seguinte tínhamos de sair cedo para a zona da prova que estava a 300km de distância. Nessa noite no hotel partilhei o quarto com o Yuri, também ia estar na mesma prova que eu, ele vinha da Rússia, e faz o campeonato Russo de Skyrunning.
Na manhã seguinte seguimos para Babin Zub, local onde estava toda a logística da prova e seria o local da partida/chegada.
Lá chegados fomos novamente os 2 instalados e recebidos pelo Alexsandar, o proprietário de um chalé de montanha extremamente bem decorado, acolhedor. 
Ao fim da tarde fomos levantar o dorsal.
Foi nessa altura que tive o primeiro contacto com o Marko, principal organizador do evento, falamos e para surpresa minha verifiquei que a prova ia ser diferente daquilo que estava habituado até então. Haveria marcações feitas pela organização mas seriam poucas, as referências seriam as normais marcações de percursos que conhecemos (PR/GR), as famosas riscas brancas e vermelhas. Mas como a prova começava à meia-noite previa uma aventura interessante. 




Dias antes tinha recebido o track e seria por aqui que tinha que me orientar, mas o meu problema seria a bateria aguentar no relógio tantas horas em modo de navegação. Confesso que perante as enormes montanhas e 85km que tinha pela frente fiquei algo apreensivo com esta situação.
Depois de tentar obter todas as referências e informações do Marko fomos novamente para o chalé descansar até à hora de partida. 
Ás 23h apanhamos novamente o transporte da organização e fomos já preparados para a linha de partida, a noite estava fria mas o céu estava limpo.
Dada a partida a minha ideia era arranjar companhia pelo menos durante a noite, mas passados 4km estava no  grupo da frente com mais 5 atletas, o Yury um Macedonio e mais 3 atletas, não sabia se estavam a fazer os 85km ou os 122km, as duas provas que começaram à mesma hora, só sabia que o Yuri estava na mesma que eu. Continuei mais algum tempo nesse grupo mas achei por bem gerir o meu ritmo e então comecei a ficar para trás, eles iam fortes, olhei para trás e também não vinha ninguém, a minha ideia tinha saído furada, agora era preciso estar muito atento e seguir o trilho. Até ao primeiro check-point ao km 7 não houve qualquer problema, mas cerca do km 10 caiu um nevoeiro que dava visibilidade de 2/3 metros, bonito pensei, noite, marcas pintadas na pedra de vez em quando e um nevoeiro cerrado não podia ser pior. 
Mas a verdade é que podia e foi, mais uns km e entramos numa zona de cerca de 1 km que não havia trilho mas uma grande área de zimbros que na sua maioria me davam entre a canela e a anca, bonito, marcações nada, vi então a pouca distância 2 luzes bem fortes no meio do nevoeiro e pensei logo que seria marcações para nos orientar naquela zona, desço naquela direcção e para meu espanto quando chego perto eram dois veados que assustados desaparecem no escuro, e agora? Tinha optado para poupar bateria só ligar o track quando tivesse em dificuldade, liguei então e vi que estava bastante longe do trilho, mas como não havia trilho e era tudo zimbros optei por atalhar caminho e fazer a festo, obviamente que além de progresso lento fiquei com as pernas num excelente estado, além da constante fricção também fiquei bastante arranhado pelas pontas aguçadas dos ramos. 
Lá cheguei novamente ao trilho e segui até ao próximo check-point, Beledje ao km 23.
Neste posto tínhamos o saco com o material que tínhamos deixado mas como íamos voltar a passar aqui aoo km 58 optei por não perder tempo e seguir. 
Até ao km 50 não houve problema quando tinha dúvidas ligava o track e não havia problema, alguns cruzamentos não estavam marcados ou eu não vi as marcas mas o pior estava do km 50 ao 54, já de dia, que nasce cerca das 4.30h, novamente zimbros, mas marcações eram poucas, ou nenhumas e no meio daquela imensidão de arvoredo rasteiro e alta montanha, estavamos acima dos 2000 metros altitude a orientação era impossível, pelo track ia bem mas tinha dúvidas porque não via marca alguma nem mais ninguém naquela imensidão. Andar sobre os zimbros é como andar em neve fofa com 35cm de altura, um desgaste muscular grande, mas pior é as pernas completamente em sangue na zona das canelas e joelhos, confesso que nesta altura só queria chegar ao próximo posto e passava-me pela cabeça desistir, apesar de fisicamente me sentir bem as dores eram grandes ao ponto de ter parar praticamente quando já fora da zona de zimbros havia folhas de árvore ou mesmo pequenas ervas e já não suportava a dor provocada pelo toque nas pernas, além disso mesmo seguindo o track não tinha a certeza que estava no trilho, achava difícil ser por ali. Perdi-me cerca de 3 vezes durante a prova o que no total deu cerca de mais 3/4 km. Antes de chegar a Beledje novamente passei por um riacho com água gelada e meti as pernas lá dentro uns instantes o que me aliviou muito as dores provocadas pelos zimbros.
Lá acabei por chegar novamente a Beledje as pernas já estavam relativamente bem e foi quando me informam que estava em 3º lugar, não fazia ideia que estava nessa posição porque havia outras 2 provas e alguns atletas passaram por mim, mas como não consegui identificar que prova estavam a fazer não tinha ideia em que lugar na classificação estava, sabia que estava dentro do top 10, mas então com a informação de estar em lugar de pódio a minha ideia foi sair rápido e perder o menor tempo possível pois não sabia a que distância estava o terceiro, saio rapidamente para terminar a prova, dali até ao fim não surgiram mais dificuldades de terreno nem de orientação, e quando chego ao último check-point recebo a informação que sou 2º, mas não passei por ninguém, vim a saber mais tarde que o Yuri não controlou ali, faltavam cerca de 9km para a meta, e eram 6 sempre em subida acentuada, praticamente um km vertical, aqui já debaixo de muito calor. 
Passadas 12.30h lá cheguei á meta e com o 2º lugar dado que o Yury foi desclassificado, mas pelo que me contou a culpa foi dos responsáveis do posto que tinham informação para chamar os atletas visto ser dentro da aldeia num local escondido. Por isso o 3º lugar seria a minha classificação correcta. 
Pódio
Mas isso de classificações e pódios é segundo plano porque o principal foi que tive uma fantástica experiência em fazer 85km quase sempre em modo de navegação, andar em locais incríveis, tanto de belo como de duro e conhecer outras gentes e culturas muito diferente da minha!
No final acabei por adorar a experiência de fazer uma prova a seguir track mas dos zimbros nunca mais......a não ser que leve caneleiras!!
Depois foi tratar as pernas, comer, dormir. 
Domingo foi dia da cerimonia de pódio para depois regressar a Belgrado.
Fiquei em Belgrado mais 2 dias desta vez fantasticamente instalado em casa do Darko. 
2ªf foi dia de conhecer a bonita Belgrado, com o Danúbio sempre presente e um calor sufocante também! 
Belgrado
Tenho de agradecer ao Darko, Lídia, e restante família a forma carinhosa e atenciosa como me acolheram e trataram, foram uns dias fantásticos. Espero brevemente por vocês aqui no Porto para poder retribuir!
Também agradeço ao Marko Nikolic, Natasa e restante equipa a forma atenciosa e simpática como me recebeu e tratou, dou-lhe os parabéns pela prova que têm.
Sem dúvida um local fantástico e com umas excelentes condições.
Espero um dia voltar e repetir a experiência.
Agora é recuperar e preparar os principais objectivos do ano, 1º na Suíça, em Julho o Eiger Ultra Trail e depois no Japão em Setembro as 100 milhas do Mt. Fuji, duas provas do World Tour. 
SIGA!!!!

Belgrado com o Danúbio ao fundo


No chalé com o Yuri

Os premiados da várias provas


A meia hora do inicio da prova

Com o Yuri

Nacionalidades presentes

Sinais da guerra em Belgrado



sexta-feira, 8 de maio de 2015

Peneda-Gerês Trail Adventure 280km


Quando o Carlos Sá me falou de uma prova inédita em Portugal de 8 etapas em 8 dias nem pensei 2 vezes, esta não posso falhar!!!
No ano passado já tinha estado na prova GTA de 3 dias, e tinha sido uma experiência fantástica, fiz em equipa de 3 com o Artur e o Vítor.
Este ano juntamente com o Paulo Pires (APT) decidimos que depois da Transgrancanaria iria então fazer uma semana de treino "durinho" ao Gerês, desta vez sozinho, era essa a ideia e preparar os desafios futuros.
Estive por dentro da organização e conhecendo as pessoas tinha a certeza que a prova seria um sucesso como veio a acontecer.

A prova ia começar no dia 26 abril Domingo, na 5ªf anterior chegou o Rodrigo, colega brasileiro que conheci em Chamonix no verão passado na altura do UTMB, iria ficar comigo em minha casa até sábado dia que seguíamos viagem para o Gerês, Arcos de Valdevez, onde iria ser a 1ª etapa. 
Na 6ªf aproveitamos para fazer um treino turístico e mostrar um pouco do Porto ao Rodrigo, o Diogo veio connosco ele que também iria fazer os 8 dias em equipa com a Natália. Coincidência desse treino um colega de Singapura Siong San que também ia estar nos 280km e na altura passeava no Porto na ponte D. Luís tirou-nos uma foto a descer as escadas dos Guindais sem saber que passado 1 dia estaríamos juntos a correr as 8 etapas, coincidência ou destino!!!!!

Sábado a meio da tarde chegamos aos Arcos, chovia copiosamente e as previsões eram más, depois de instalados no hotel, no fim‑de‑semana fiquei com a família que regressaria no Domingo ao Porto para voltar ao Gerês na 5ªf seguinte, fomos levantar o dorsal, que afinal seriam 8 dorsais porque era 1 por etapa. Como a chuva não parava só saímos do hotel para jantar, aí já deu para começar a ver aquele grupo que iria andar junto durante 8 dias. Era pessoal de vários países, Espanha, Andorra, França, Alemanha, Canadá, EUA, Chile, Brasil e obviamente Portugal!
Após o jantar era tempo de descansar que a aventura ia começar cedo no dia seguinte.

1ª etapa 43km 3400 desnível acumulado Arcos - Arcos

Tinha combinado com o Telmo Veloso que iríamos juntos nesta 1ª etapa, ele que iria fazer os GTA 4 dias, esta 1ª etapa era aberta a quem se tinha inscrito na prova de 4 dias, além disso também houve um trail solidário de 26km.

Já com o grupo na linha de partida, os atletas dos 8 dias estava já todo junto na frente, pois a partida era em frente ao hotel onde tínhamos pernoitado todos.
1ª etapa - Arcos
Dada a partida com um belo dia de sol, o início foi muito rápido, para quem ia fazer 8 etapas, era preciso levantar o pé e gerir bem porque estávamos no início. Como tinha chovido muito o terreno estava muito pesado e obviamente o desgaste era maior, os primeiros 17km fiz em companhia do Telmo, mas na Porta do Mezio ele achou por bem fazer o percurso do trail solidário e assim seguimos caminhos diferentes, agora depois de passar as Portas e entrar no Parque, zona muito bonita, entramos no verdadeiro Gerês e já conseguimos cheirar um bocadinho do que nos esperava, zonas de paisagens fantásticas  e com o sol que vida ganha estas paisagens....e eu!!
Quando estava a sair do último abastecimento encontro o Rodrigo que estava a chegar porque se tinha perdido, depois de conversarmos um bocadinho ele que rola muito bem seguiu à frente, estávamos na zona do Rio, na ciclovia que levava novamente até aos Arcos, estava feita a 1ª etapa, tive a companhia do David ao terminar a etapa e como sabe bem ter os nossos à espera.
Chegada 1ª etapa

Agora era ver como o corpo ia despertar no dia seguinte.
Novo jantar em grupo e hora de descansar que no dia seguinte   a alvorada era cedo.

2ª etapa 41km 4000 desnível acumulado Sistelo - Melgaço 

O despertar foi um pouco doloroso pelos excessos cometidos na véspera, mas já na sala do pequeno-almoço, era onde o grupo se encontrava todas as manhãs a boa disposição imperava e logo se esqueceu o menos bom!
Hoje iríamos de autocarro para Sistelo onde seria dada a partida, uma pequena aldeia muito agradável, lá chegados faltava o Salvador Calvo que andava em carro próprio e se tinha perdido, ainda esperamos por ele cerca de 20 minutos mas como não aparecia foi dada a partida, vim a saber que ele tinha partido 6 minutos mais tarde, o início da etapa era a parte mais complicada e também para mim a mais bonita, começava com uma longa subida técnica e que na fase inicial era muito escorregadia. Foi nesta etapa que eu e o Rodrigo começamos a andar juntos, desde este dia fomos sempre juntos até ao ultimo, a subida tinha cerca de 10km e foi a bom ritmo que a subimos, passamos por muitas "brandas e inverneiras" (fiquei a saber o que eram mais tarde em Castro Laboreiro) quando devíamos ir com 1/3 de subida já passava por nós o Salvador Calvo, que fácil parecia subir aquilo, ainda viria a ganhar a etapa!!! um grande exemplo de atleta aos 53 anos!
Depois de percorrermos zonas muito bonitas, atravessado ribeiras, aldeias, como obviamente todos os abastecimentos dados pela organização, e que bem recheados eram, só me vinha à cabeça os péssimos abastecimentos das canárias assim como todo o pó que lá apanhei e este beleza aqui ao lado!
No último km encontramos o Sá que estava a controlar um ribeiro que devido à muita chuva que tinha caído estava a ganhar caudal e ainda faltava passar muitos atletas, são estes cuidados que fazem as grandes diferenças. Depois foi subir dentro de Melgaço até chegar ao castelo porque a chegada era no seu interior, e assim estava a 2ª etapa concluída, tínhamos na meta à nossa espera o Rui e a Sofia e foi uma constante esta dupla esperar por todos os atletas com a sua boa disposição e sempre atentos a que nada falhasse.
Mal terminamos tínhamos transporte que nos levou ao hotel e lá fomos recebidos pelos primeiros classificados, também seria uma constante e que bem sabia sermos recebidos por grandes referências do trail como os irmão Obaya pelos franceses Cristophe le Saux e Erceau, também o Ivan, Amandio, Moises e Salvador Calvo. Também era assim para todos que iam chegando até ao último a festa era a mesma, grupo fantástico que também ajudou a que tudo corresse da melhor maneira.

Grupo 8 dias
3ª etapa 32km 2000 desnível acumulado Castro Laboreiro - Peneda

Este dia começou com uma visita à Vila de Castro Laboreiro e conhecemos os seus costumes, formas de viver no passado. Depois fomos também visitar o canil onde estavam os famosos cães de raça do mesmo nome da vila, muito bonitos e agressivos, exceção de cerca de 4/5 bébés que só queriam afiar os dentes nas nossas mãos.

Esta etapa foi muito bonita, já conhecia parte do percurso mas é sempre agradável voltar a andar naquelas paisaigens, onde impera o silêncio só quebrado por uma quantidade enorme de canais de água que sempre nos seguem. Passamos o famoso "bico de pato" uma formação rochosa que parece mesmo essa imagem.
Foi nesta etapa que surgiu a ideia de fazer equipa com o Rodrigo, já andávamos juntos praticamente desde o primeiro dia e assim resolvemos no fim da etapa tentar alterar para equipa, antes disso falamos com quem estava directamente ligado a essa alteração e como ninguém colocou entraves passamos a formar equipa desde este dia.


"A equipa"
A chegada foi no Santuário da Peneda, onde também mesmo ao lado era o Hotel que iríamos ficar essa noite.

4ª etapa 31km 2600 desnível acumulado Peneda - Lindoso

Esta para mim foi a etapa mais bonita, a escolha não é fácil, mas talvez o fantástico dia de sol tenha ajudado. Esta seria oficialmente a 1ª etapa em equipa com o Rodrigo e assim saímos juntos e com os mais rápidos, o inicio foi descer aquela quantidade de degraus que levam ao Santuário, andamos juntos, conversamos, passamos aldeias, ribeiras, era uma etapa com mais desnível negativo, o que se não for controlado também deixa mais marcas, esta foi a etapa que torci o pé 2 vezes, o que vale é que não faltavam cursos de água para fazer "gelo".
Foi uma etapa relativamente rápida, andamos bem e a chegada ao castelo do Lindoso foi fantástica, ainda estavam lá os primeiros classificados e fomos recebidos em festa, abraços e felicitações daqueles cracks dá sempre moral extra, e já com tantos km nas pernas que força dá.

Nesse dia o alojamento foi em casas de turismo rural, aldeia muito bonita em que toda o grupo adorou, principalmente o pessoal de Singapura.
Partida Peneda

No dia seguinte era a etapa nocturna a 5º e já íamos ter companhia de mais de 400 pessoas, começava nesse dia os 4 dias do GTA.
Como só corríamos às 21h fomos ainda no Lindoso visitar a Barragem e a sua central hidroeléctrica. Depois de um bom almoço seguimos para Lobios em Espanha para ir aos banhos quentes ao ar livre, como chovia e já lá tinha estado à pouco tempo optei por não ir para a água, mas muitos aproveitaram e lá ficaram uns minutos de "molho"
Depois foi seguir para a vila do Gerês onde iríamos ficar até ao final da prova.


5ª etapa 15km 1800 desnível acumulado Gerês - Gerês 

Nesta etapa nocturna o grupo dos 8 dias saiu 5 minutos antes do resto do pessoal, já estávamos no 5º dia e eles no 1º, assim deu para andar uns km na frente do Iker Karrera por exemplo :)
Chovia mas não estava frio e depois de circularmos junto da água e também dentro, tínhamos um lanço de escadas com cerca de 1800 degraus, pelo menos foi a informação que me deram, a verdade é que nunca mais acabavam e quando pensávamos que estava a acabar porque estava um grupo a tocar bombo, afinal só estávamos a meio!!! Depois disso foi sempre a descer até ao final, esta foi a etapa mais curta e a que mais estrago me fez, foi sempre muito rápida e já levávamos mais de 150km nas pernas.
Chegados ao fim a ideia era ir jantar rapidamente pois no dia seguinte havia mais 35km duros para fazer. 
Etapa nocturna


6ª etapa 35km 4000 desnível acumulado Xertelo - Gerês

Nesta 6ª etapa também saímos de autocarro até à vila de Xertelo onde seria dada a partida, neste dia as sensações não eram as melhores, sentia o esforço da véspera, poucas horas de sono, as 5 etapas já deixadas para trás, além disso estava um autêntico dia de inverno. O inicio da etapa foi novamente rápido, mas rapidamente vi que tinha que gerir bem e fui abrandando o ritmo, o percurso também era muito técnico e assim o ritmo ficou mais confortável. Antes do 1º abastecimento tivemos que atravessar um rio onde a corrente estava muito forte e a agua nos dava pelo cintura, foi a situação mais complicada nestes 8 dias, mas com entreajuda tudo se resolve, pena que muitos "atletas" assim não pensem e mesmo correndo em equipa nem mesmo o companheiro(a) ajudavam.
No abastecimento a escolha era grande e tínhamos quase de tudo, parecia um banquete, apetitosos bolos, presunto muito bom, sopa, até chanfana, eu optei por uma paragem mais lenta e comer uma sopa quentinha que bem soube, continuava a chover e o corpo pedia calor.
Dai até Fafião foi em amena conversa com o Rodrigo e com o Paulo Reis que se tinha juntado a nós e assim foi até à meta. Quando saímos de Fafião começamos a cruzar com os atletas que estavam a fazer a versão mais curta, a starter e faziam o percurso contrario, e ai vi a amiga Anabela já a terminar....que sorte!!!
Esta etapa nunca mais acabava, estava a sofrer, o corpo pedia descanso, estava frio, o terreno pesado, e a última descida até ao pórtico da meta foi penosa, mas estava feita, agora era preciso recuperar bem para a "etapa rainha" do dia seguinte!
Partida Xertelo
Depois de banho tomado fomos comer um "bife" desejo do Rodrigo, ainda fizemos uma massagem para ajudar numa mais rápida recuperação, jantar e cama :)

7ª etapa  63km 8000 desnível acumulado Gerês - Gerês

A etapa longa, mais uma noite mal dormida, ainda por cima cerca das 2.45h acordei com o quarto a tremer, mais tarde vim a saber que tinha sido um sismo com epicentro não muito longe dali.
6h da manhã estávamos a tomar o pequeno-almoço, olhando para as muitas caras presentes a vontade era pouca, estava ainda noite escura e chovia copiosamente, as conversas eram pouca animadoras mas não era ali que íamos morrer depois de quase 200km nas pernas, o objectivo passava por terminar.
Foi ai que combinamos um "pacto" com o Diogo e a Natália, hoje sofrer e terminar e amanhã fazemos a ultima etapa juntos e em festa, a coisa animou um pouco e assim dirigimo-nos para a zona de partida.
Não parava de chover, mas as previsões indicavam melhorias para meio da manhã, assim esperávamos que fosse.
Os primeiros km foram em estrada, depois viragem à esquerda e começou a primeira de muitas longas subidas, neste dia as sensações eram melhores que na véspera. Já conhecia esta etapa do ano anterior, sabia o que nos esperava, e a grande dificuldade estava reservada para a Serra Amarela.
Depois do 1º abastecimento da Ermida entramos numa das zonas mais bonitas do percurso, junto ao rio que estava com forte caudal e as quedas de agua eram brutais, a cascata do Tahiti estava qualquer coisa de espectacular tanta era a força da água. 

Cascata Tahiti
O terreno estava muito pesado, muita água, lama, o desgaste era muito maior, mas era preciso continuar.
No abastecimento dos 29km fomos informados que a Serra Amarela devido ao denso nevoeiro, a visibilidade era cerca de 1 metro, tinha sido cortada, ufaaaa, que força nos deu, menos 10km para quem já levava tantos dias e km nas pernas foi que nem ginja :)
No abastecimento seguinte junto da barragem encontrei a família assim como algumas caras conhecidas, um bocadinho de conversa e umas fotos e siga para o próximo onde viria a encontrar novamente as mesmas caras, bem abastecido agora era a fundo até ao fim.
Faltava subir a famosa Calcedónia, já com sol aberto as vistas eram fantásticas, passei pela fenda e estava feita a ultima subida do dia, pensava eu, mas devido ao corte tivemos de voltar a subir até onde estava o abastecimento dos 29km, aí nem parei e foi sempre a "abrir" até ao final, estava feita a etapa mais longa e praticamente o PGTA. 

8ª etapa 16km 2000 desnível acumulado Gerês - Gerês

Esta seria a etapa de consagração, de festejo, de convívio, e assim foi, tal como combinado na véspera com o Diogo e a Natália fomos os 4 toda a etapa juntos e deu para conversar bastante, rir, e também recordar aquela semana, apesar da chuva forte que caiu todo o percurso no final da subida ainda deu para tomar banho num tanque para celebrarmos e arrefecermos mais do que já estávamos!!!

Os 4 no tanque

No final foram os habituais festejos, tínhamos terminado uma semana fantástica, uma experiência que será inesquecível, e uma das melhores provas que fiz até à data, sem qualquer dúvida.

A medalha de finisher era novamente personalizada com foto e o colete de excelente qualidade, deu logo um jeito com o tempo que estava.

Faltava a entrega dos muitos prémios, e foi muito bom ver tantos amigos a subir ao pódio, e para acabar em beleza no final também lá fui com o Rodrigo receber o 3º lugar por equipas.
Em 1º ficaram os irmãos Obaya e em 2º os Cristophe le Saux e Erceau, não é todos os dias que subimos ao pódio ao lado deste grandes nomes!

Pódio
Estava feito o Peneda-Gerês Trail Adventure, uma prova em que nada falhou, a atenção do Rui, da Sofia e da Ana foi constante eles que nos acompanharam durante os 8 dias, o Carlos Sá sempre atento a todos os pormenores das etapas e teve o mérito de escolher dos melhores trilhos que já fiz, o restante pessoal que ajudou na organização que foi fantástico e trabalhou duro para que nada falhasse. O frutos certamente serão recolhidos nos próximos anos, disso não tenho qualquer duvida, esta prova tem tudo para ser uma referência, o Gerês e esta equipa merecem.

Também tenho de agradecer a todo o grupo de atletas que fez as 8 etapas, só um grupo destes faz com que esta semana tivesse sido fantástica, boa disposição, simpatia, amizade, convívio, palhaçadas, e nenhuma situação menos boa, assim vale a pena!!!!

Ficam aqui mais fotos dos 8 dias.....

O grupo dos 8 dias quase todo....

Peneda

Táctica :)

Festa final

A equipa

Samba

1ª etapa com o Telmo

Com Rodrigo, Gustavo e Mauro


A caminho de Castro Laboreiro

Cimeira Luso-Brasileira

4ª etapa 

"A reportagem com o Joca"

7ª etapa