quarta-feira, 3 de setembro de 2014

UTMB - CCC - Chamonix

Chamonix
Depois de ter sido obrigado a desistir das 100 milhas do ehunmilak devido a lesão, o principal objectivo passava a ser o CCC (Courmayeur - Champex - Chamonix), entretanto 1 mês antes desta prova surgiu a possibilidade de alterar de prova que tinha agendada para terminar o ano competitivo, inicialmente seria o Tenerife Bluetrail de 100km em que já estava inscrito, mas abriu-se a porta das 100 milhas da Diagonal des Fous e sendo assim o CCC passaria a ser um "bom" treino longo mas que não poderia deixar grandes marcas físicas pois a preparação tinha de continuar com vista à prova que se vai realizar naquela bela ilha do Oceano Índico em Outubro.
Viajei para Chamonix 3ªf, a prova seria na 6ªf por isso havia a possibilidade de treinar e ambientar para aquela dura prova que se desenrola em plenos Alpes e com vista privilegiada para o Monte Branco.
Já tinha estado em Chamonix em Agosto do ano passado, e em Julho deste ano fui fazer o KM Vertical e a Maratona do Monte Branco, por isso já conhecia o desafio e percurso que tinha pela frente.
Chamonix além da "Meca" do trail running também é um dos melhores destinos para os desportos Outdoor, são muitas as pessoas que cruzamos pelo centro da cidade com bastões, mochilas, botas de escalada, etc... além das dezenas de lojas relacionadas com estas actividades, sem duvida um ambiente fantástico, melhor ainda nestes dias que precedem uma das provas mais importantes do Mundo.
Ainda na 3ªf fiz um treino curto de cerca de 50 minutos até ao Chalet La Florie, local muito bonito com fantásticas vista sobre Chamonix e para o pico do Monte Branco.
Na 4ªf novo treino muito soft na companhia do pessoal da Desnível Positivo, Carlos Sá, Nuno Silva, Ester e também do meu colega de apartamento o Rodrigo Souza, que veio do Brasil para fazer o UTMB e que se viria a revelar uma pessoa espectacular e com um grande sentido de humor, ou como ele passou a dizer "fixe". Esse treino também serviu para o Carlos fazer umas filmagens e entrevistas para o seu canal do YouTube e que brevemente serão partilhadas aqui: (http://www.youtube.com/channel/UCfXu5KsmkI0VeP1g-5HhxTg
Na parte da tarde foi para levantar o dorsal e apresentar o material obrigatório, apesar de estar muita gente acabou por ser relativamente rápido, até porque estava na boa companhia do Diogo Almeida e da Natália que também iam fazer a mesma prova. A organização é do melhor que já vi tudo bem pensado e organizado, depois de entrarmos na zona do Check-In não houve tempos mortos, ao contrário do que pensava o material obrigatório não foi todo confirmado pois ao entrar davam-nos um papel para assinar com o nossos dados e número de dorsal e 4 itens do material obrigatório aleatórios, a mim saiu os 2 frontais e respectivas pilhas suplentes, calças impermeáveis, casaco impermeável e telemóvel, tudo correu bem e estava tratado este assunto, de seguida fui até ao recinto da feira visitar todos aqueles stands para começar a ter uma ideia do calendário para 2015, muita promoção a várias provas pelo mundo fora incluindo o Geres Trail Adventure. 
Neste dia o Carlos Sá reuniu os portugueses presentes em Chamonix para jantarmos e confraternizar no Alan Peru um restaurante gerido por uma portuguesa radicada em Chamonix. 
5ªf  foi um dia dedicado ao descanso total e preparar tudo para no dia seguinte levar para a prova.
6ªf começou bem cedo cerca das 6.00h para um bom pequeno-almoço, equipar e sair para o centro de Chamonix na companhia do Diogo e da Natália onde iríamos apanhar um autocarro para Courmayeur em Itália onde iria às 9.00h começar a prova, tudo decorreu sem qualquer tipo de espera e às 8.00h já estávamos no local da partida, optei por não deixar qualquer saco no posto de Champex a pensar que seriam cerca de 2500 pessoas e que talvez seria grande confusão e tempo perdido para ter acesso ao saco, então além do material obrigatório optei por levar mais um par de meias e uma t-shirt.
Uma meia hora antes das 9.00h já na zona de partida, eu, o Diogo e a Natália fomos separados pela organização devido a terem criado 3 zonas de partida relacionadas com os tempos que tínhamos dado na altura da inscrição, fiquei então sozinho mas rapidamente encontrei o pessoal da APT e juntei-me ao grupo.
Uns minutos antes das 9.00h o nervosismo aumenta, começam a tocar os hinos dos 3 países que a prova atravessa e o ambiente é fenomenal, a musica ajuda a arrepiar a pele, desejamos boa sorte e é dada a partida, muito público nas ruas a abanar os típicos chocalhos das vacas tradicionais do Alpes tornam este momento fantástico, depois de 3 km dentro de Courmayeur entramos nos primeiros trilhos que nos leva à primeira grande dificuldade do dia e logo o ponto mais alto da prova com cerca de 2600 metros de altitude. Lá segui a tentar gerir da melhor maneira o esforço, as sensações eram boas, estava a sentir-me bem e o ritmo era bom, com 2h de prova estava no alto de Tête de la Tronche e a partir daqui a prova entrou na que para mim é a zona mais bonita do percurso até ao Grand Col Ferret novo ponto acima dos 2500 metros e uma subida brutal, 1h de subida e as vistas eram fantásticas, para já o tempo estava bom e iniciava a maior descida da prova, seriam quase 20km e por estranho que achem era o local que mais receio tinha, foram quase 2h a descer mas que correram melhor que o que estava à espera, no abastecimento de La Fouly encontrei o Miguel Catarino e fomos juntos a bom ritmo e a ultrapassar muita gente até ao inicio da subida para Champex onde estava o principal posto de abastecimento da prova, na subida o Catarino estava a andar forte e não consegui ir ao ritmo dele, (acho que vou ter de me render aos bastões), quando cheguei a Champex com pouco mais de 8h de prova voltei a encontrar o Catarino que estava com a família, ouvi chamarem o meu nome e era ele e o Telmo Dourado, fui ao encontro deles e que grande ajuda foi o Telmo, enquanto optei por trocar de meias ele foi buscar uma data de comida e com isto além de perder pouco tempo alimentei-me bem, alem disso o Catarino ainda me cedeu uma fast recovery o que ajudou a recuperar algum do esforço dispendido, e não há duvidas que uma boa alimentação e hidratação fazem milagres, senti-me sempre muito bem e com força durante a prova quase toda.
O Catarino saiu uns minutos antes de mim e só o voltei a ver em Vallorcine. Bem alimentado sai agradecendo a ajuda do Telmo e com os incentivos dele e do Paulo Reis e que bem sabe isto, dá uma força extra, posso dizer que a partir daqui sentia-me como que se a prova tivesse começado e fui continuando a ultrapassar mais atletas e então quando era a descer consegui impor um ritmo muito bom, parecia que era uma prova de 20 ou 30km, mesmo nas zonas com mais lama e era muita, até porque começou a chover, o ritmo era muito bom, fisicamente estava a sentir-me bem e a cabeça estava a ajudar, até porque ia recebendo informação dos meus pais e da Cláudia que me diziam que estava constantemente a ganhar lugares na classificação, além de várias mensagens de amigos a incentivar o que dá grande força, e posso dizer que facilmente cheguei a Trient.
Como a estimativa da organização estava bem acima do ritmo que ia cheguei rapidamente ao abastecimento de Trient o pessoal da APT só os encontrei quando já ia a sair, mas ainda deu para trocar uma palavras e ouvir novamente os seus incentivos, foram GRANDES, a partir daqui já era praticamente noite e como chovia o dia estava escuro, optei por parar logo na saída de Trient para pôr o frontal e uns minutos mais à frente já ia ligado. Esta subida que nos levava até Catogne foi a que melhor me senti e fiz parte dela a trote, passei uma data de gente que ficava admirada como ia naquele ritmo já perto do 80km, a descida para Vallorcine foi mais técnica e com muita lama mas continuava a bom ritmo e a passar mais atletas, chegado ao último posto de abastecimento completo com 13h de prova, acabo de entrar e vejo que o Catarino estava lá, andamos com poucos minutos de diferença, opto por fazer uma paragem rápida e só comi uma sopa de massa bebi um chá e continuei, penso que estive lá cerca de 3/5 minutos, aqui apesar de avisado descurei um pouco a alimentação e tinha pela frente uma dura subida muito técnica e com muita chuva e vento pela frente, novo incentivo a sair do posto agora mais forte pois além do Telmo e do Paulo Reis já estava também o Paulo Tavares e a Anabela Rodrigues e foi sempre a correr até ao inicio da subida, sabia o que tinha pela frente já tinha feito esta subida e sabia que era uma destruidora de pernas, e então já com 85km mais difícil seria.
No posto de controlo mesmo antes de iniciar a subida optei por vestir a camisola térmica, estava com a que levava molhada e estava a sentir  frio, com muito chuva e vento e como ia subir novamente acima dos 2000 metros é já era noite joguei pelo seguro, por acaso o Rui Barbosa estava neste ponto de controlo e deu-me uma grande ajuda na troca, já estava com as mãos geladas e com a roupa colada ao corpo sozinho iria ser bem difícil. 
Atravesso a estrada que liga Chamonix a Martigny na Suíça e inicio a temida subida, a última, mas esta subida foi de longe a que mais me custou, a meio da subida apanhei um grupo de 4 atletas, optei por seguir com eles, foi uma boa opção, sofri muito nesta zona, não me alimentei como devia em Vallorcine e estava a pagar isso, aproveitei para comer 2 barras de mel e recuperei bem, esta subida é muito técnica, tem muita pedra e em algumas zonas temos mesmo de usar as mãos, mesmo depois de chegar ao alto, Tête aux Vents, (o nome diz tudo) a pedra continua a ser o que temos que pisar quase até chegarmos a La Flégére último posto de abastecimento, optei por nem parar, já tinha feito esta parte da prova em Junho na Maratona e sabia que demorava pouco mais de 45 minutos a chegar a Chamonix, aqui sabia que a prova estava feita mais ainda tinha 5 atletas na frente para entrar no top 100, na longa descida consegui passar 4 sabia que estava a 1 lugar do objectivo que criei a meio da prova mas não fazia a mínima ideia da distância que estava desse atleta, não via ninguém na minha frente e tinha dado grande vantagem aos que tinha passado, então optei por parar no Chalet la Florie para tirar o impermeável e guardar na mochila, e foi esta decisão que me tirou o 100º lugar, perdi cerca de 2 minutos e o atleta que fez 100º terminou com 2 minutos de vantagem, ou seja se soubesse que ele estava ali tão perto provavelmente o tinha alcançado, paciência!!! 

A chegada a Chamonix já foi depois da 1.00h da manhã, mas mesmo assim ainda algumas pessoas na rua a incentivar, e já na recta final vem o Telmo ao meu encontro e entrega-me uma bandeira nacional, aí foi terminar, festejar, 16.22h depois e no 101º lugar e 23º na categoria, tinha sido uma corrida de trás para a frente e na chegada tinha aquele grupo que me acompanhou nos abastecimentos à espera e o Catarino que já tinha chegado uns minutos antes também aguardava por mim, fantástico aquele final, fantástica aquela prova, tinha finalmente feito uma prova que ultrapassou nas minhas preferências Cavalls del Vent.
Depois foi tirar fotos com o pessoal, ouvir novidades sobre outros atletas, também sobre o que se passava no UTMB, entretanto também chegava a Natércia Silvestre e mais uma festa, depois foi regressar ao apartamento que começava o corpo a arrefecer e estava muito frio.
No sábado e depois de uma boa noite de sono acordei bem melhor do que pensava que ia estar, o "empeno" não era muito e até deu para acompanhar o Carlos Sá nos seus últimos metros em Chamonix, ainda recebemos o Nuno Silva e já noite dentro nova corrida desta vez com a chegada da Ester!

Estive sozinho no apartamento até Domingo de manhã altura que chegou o também Finisher do UTMB Rodrigo Souza, grande campeão. Ainda fiz um ligeiro trote de 30 minutos para "limpar" o lactato acumulado!
Depois fomos ver a entrega de prémios do UTMB onde esteve o Carlos Sá e de seguida novo jantar com os amigos no Alan Peru de despedida com a presença do "Mestre" Carlos Natividade, um exemplo e um grande campeão, também finisher do UTMB.
2ªf era dia de regresso, a manhã foi para dar uma volta por Chamonix na companhia do "famoso" Rodrigo, fazer umas compras e regressar ao Porto.


Aproveito para agradecer a todos que enviaram mensagens, que ligaram, que estiveram presentes, que apoiaram nos postos, à Cláudia, aos meus pais e irmã ao Paulo Pires APT, e Desnível Positivo!
Agora continuar o trabalho com o objectivo das 100 milhas da Diagonal dos Loucos em Outubro!!!







Chegada













Champex