quinta-feira, 18 de junho de 2015

Ultra Trail Stara Planina - Sérvia

Tudo começou quando o Darko, um amigo Sérvio do tempo do andebol que sabia desta minha nova actividade das corridas de montanha, me convidou para ir à Sérvia fazer uma prova que um amigo dele organiza. 
Não tinha grande informação da prova, e confesso que só mesmo dias antes da viagem vi o perfil, altimetria etc...
Altimetria/Perfil
As condições que a organização me apresentou eram bem interessantes para recusar, e a verdade é que nesse aspecto não tenho nada a apontar!
Tinha voo de Lisboa 5ªf as 8.30h o que me obrigava a dormir na véspera em Lisboa, nesse aspecto também não tive qualquer problema, fui extremamente bem recebido pelo casal Anabela Rodrigues e Paulo Reis, senti-me como em casa, só tenho que agradecer a simpática e atenciosa estadia!
Na chegada a Belgrado tenho o Darko à minha espera, foi um momento emotivo, fazia 12 anos que não nos víamos, depois de termos passado 4 anos juntos na mesma equipa de andebol e termos partilhado muitas histórias!!!
Foi muito agradável aquele 1º dia em Belgrado, demos uma pequena volta pela cidade onde jantamos e recordamos boas histórias do andebol, o calor fazia-se sentir e as esplanadas no centro de Belgrado estavam cheias.
Com o Darko
Nessa primeira noite fiquei num hotel que a organização arranjou pois na manhã seguinte tínhamos de sair cedo para a zona da prova que estava a 300km de distância. Nessa noite no hotel partilhei o quarto com o Yuri, também ia estar na mesma prova que eu, ele vinha da Rússia, e faz o campeonato Russo de Skyrunning.
Na manhã seguinte seguimos para Babin Zub, local onde estava toda a logística da prova e seria o local da partida/chegada.
Lá chegados fomos novamente os 2 instalados e recebidos pelo Alexsandar, o proprietário de um chalé de montanha extremamente bem decorado, acolhedor. 
Ao fim da tarde fomos levantar o dorsal.
Foi nessa altura que tive o primeiro contacto com o Marko, principal organizador do evento, falamos e para surpresa minha verifiquei que a prova ia ser diferente daquilo que estava habituado até então. Haveria marcações feitas pela organização mas seriam poucas, as referências seriam as normais marcações de percursos que conhecemos (PR/GR), as famosas riscas brancas e vermelhas. Mas como a prova começava à meia-noite previa uma aventura interessante. 




Dias antes tinha recebido o track e seria por aqui que tinha que me orientar, mas o meu problema seria a bateria aguentar no relógio tantas horas em modo de navegação. Confesso que perante as enormes montanhas e 85km que tinha pela frente fiquei algo apreensivo com esta situação.
Depois de tentar obter todas as referências e informações do Marko fomos novamente para o chalé descansar até à hora de partida. 
Ás 23h apanhamos novamente o transporte da organização e fomos já preparados para a linha de partida, a noite estava fria mas o céu estava limpo.
Dada a partida a minha ideia era arranjar companhia pelo menos durante a noite, mas passados 4km estava no  grupo da frente com mais 5 atletas, o Yury um Macedonio e mais 3 atletas, não sabia se estavam a fazer os 85km ou os 122km, as duas provas que começaram à mesma hora, só sabia que o Yuri estava na mesma que eu. Continuei mais algum tempo nesse grupo mas achei por bem gerir o meu ritmo e então comecei a ficar para trás, eles iam fortes, olhei para trás e também não vinha ninguém, a minha ideia tinha saído furada, agora era preciso estar muito atento e seguir o trilho. Até ao primeiro check-point ao km 7 não houve qualquer problema, mas cerca do km 10 caiu um nevoeiro que dava visibilidade de 2/3 metros, bonito pensei, noite, marcas pintadas na pedra de vez em quando e um nevoeiro cerrado não podia ser pior. 
Mas a verdade é que podia e foi, mais uns km e entramos numa zona de cerca de 1 km que não havia trilho mas uma grande área de zimbros que na sua maioria me davam entre a canela e a anca, bonito, marcações nada, vi então a pouca distância 2 luzes bem fortes no meio do nevoeiro e pensei logo que seria marcações para nos orientar naquela zona, desço naquela direcção e para meu espanto quando chego perto eram dois veados que assustados desaparecem no escuro, e agora? Tinha optado para poupar bateria só ligar o track quando tivesse em dificuldade, liguei então e vi que estava bastante longe do trilho, mas como não havia trilho e era tudo zimbros optei por atalhar caminho e fazer a festo, obviamente que além de progresso lento fiquei com as pernas num excelente estado, além da constante fricção também fiquei bastante arranhado pelas pontas aguçadas dos ramos. 
Lá cheguei novamente ao trilho e segui até ao próximo check-point, Beledje ao km 23.
Neste posto tínhamos o saco com o material que tínhamos deixado mas como íamos voltar a passar aqui aoo km 58 optei por não perder tempo e seguir. 
Até ao km 50 não houve problema quando tinha dúvidas ligava o track e não havia problema, alguns cruzamentos não estavam marcados ou eu não vi as marcas mas o pior estava do km 50 ao 54, já de dia, que nasce cerca das 4.30h, novamente zimbros, mas marcações eram poucas, ou nenhumas e no meio daquela imensidão de arvoredo rasteiro e alta montanha, estavamos acima dos 2000 metros altitude a orientação era impossível, pelo track ia bem mas tinha dúvidas porque não via marca alguma nem mais ninguém naquela imensidão. Andar sobre os zimbros é como andar em neve fofa com 35cm de altura, um desgaste muscular grande, mas pior é as pernas completamente em sangue na zona das canelas e joelhos, confesso que nesta altura só queria chegar ao próximo posto e passava-me pela cabeça desistir, apesar de fisicamente me sentir bem as dores eram grandes ao ponto de ter parar praticamente quando já fora da zona de zimbros havia folhas de árvore ou mesmo pequenas ervas e já não suportava a dor provocada pelo toque nas pernas, além disso mesmo seguindo o track não tinha a certeza que estava no trilho, achava difícil ser por ali. Perdi-me cerca de 3 vezes durante a prova o que no total deu cerca de mais 3/4 km. Antes de chegar a Beledje novamente passei por um riacho com água gelada e meti as pernas lá dentro uns instantes o que me aliviou muito as dores provocadas pelos zimbros.
Lá acabei por chegar novamente a Beledje as pernas já estavam relativamente bem e foi quando me informam que estava em 3º lugar, não fazia ideia que estava nessa posição porque havia outras 2 provas e alguns atletas passaram por mim, mas como não consegui identificar que prova estavam a fazer não tinha ideia em que lugar na classificação estava, sabia que estava dentro do top 10, mas então com a informação de estar em lugar de pódio a minha ideia foi sair rápido e perder o menor tempo possível pois não sabia a que distância estava o terceiro, saio rapidamente para terminar a prova, dali até ao fim não surgiram mais dificuldades de terreno nem de orientação, e quando chego ao último check-point recebo a informação que sou 2º, mas não passei por ninguém, vim a saber mais tarde que o Yuri não controlou ali, faltavam cerca de 9km para a meta, e eram 6 sempre em subida acentuada, praticamente um km vertical, aqui já debaixo de muito calor. 
Passadas 12.30h lá cheguei á meta e com o 2º lugar dado que o Yury foi desclassificado, mas pelo que me contou a culpa foi dos responsáveis do posto que tinham informação para chamar os atletas visto ser dentro da aldeia num local escondido. Por isso o 3º lugar seria a minha classificação correcta. 
Pódio
Mas isso de classificações e pódios é segundo plano porque o principal foi que tive uma fantástica experiência em fazer 85km quase sempre em modo de navegação, andar em locais incríveis, tanto de belo como de duro e conhecer outras gentes e culturas muito diferente da minha!
No final acabei por adorar a experiência de fazer uma prova a seguir track mas dos zimbros nunca mais......a não ser que leve caneleiras!!
Depois foi tratar as pernas, comer, dormir. 
Domingo foi dia da cerimonia de pódio para depois regressar a Belgrado.
Fiquei em Belgrado mais 2 dias desta vez fantasticamente instalado em casa do Darko. 
2ªf foi dia de conhecer a bonita Belgrado, com o Danúbio sempre presente e um calor sufocante também! 
Belgrado
Tenho de agradecer ao Darko, Lídia, e restante família a forma carinhosa e atenciosa como me acolheram e trataram, foram uns dias fantásticos. Espero brevemente por vocês aqui no Porto para poder retribuir!
Também agradeço ao Marko Nikolic, Natasa e restante equipa a forma atenciosa e simpática como me recebeu e tratou, dou-lhe os parabéns pela prova que têm.
Sem dúvida um local fantástico e com umas excelentes condições.
Espero um dia voltar e repetir a experiência.
Agora é recuperar e preparar os principais objectivos do ano, 1º na Suíça, em Julho o Eiger Ultra Trail e depois no Japão em Setembro as 100 milhas do Mt. Fuji, duas provas do World Tour. 
SIGA!!!!

Belgrado com o Danúbio ao fundo


No chalé com o Yuri

Os premiados da várias provas


A meia hora do inicio da prova

Com o Yuri

Nacionalidades presentes

Sinais da guerra em Belgrado



5 comentários:

  1. Estava a ler e a pensar: "bolas, estar num país diferente a fazer uma prova por navegação..." Não é por nada, mas eu ficava borradinha!! Por isso mesmo deve ter sido ainda mais emocionante.
    Quanto ao zimbro... Meu caro, amigo, para a próxima para e enche a mochila disso. São ótimos para aromatizar gin tónico! E não pesam muito...
    Parabéns pela experiência e pelo pódio! Não interessa muito mas é de ressalvar, ora essa!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "Bota" emocionante nisso....mas zimbros nem no gin quero ouvir falar :) Bjinho!!!

      Eliminar
  2. Que bela experiência Pedro, imagino a aventura que terá sido. Parabéns pela prova e pelo pódio - embora não seja o mais importante, com certeza que soube bem :)
    Aquele abraço e muita força para o que aí vem ... o Eiger deve ser do caraças :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Carlos :) Vê se apareces por a Suiça, costumas treinar por lá perto ;)

      Eliminar
    2. Pois ... mas o Eiger já é outra fruta ;) .. isso já para outras máquinas ;)
      Abraço

      Eliminar