domingo, 15 de março de 2015

Transgrancanaria

07.03.2015
Ilha de Gran Canaria - Espanha
128km
8500D+

A Transgrancanaria era uma prova que já há muito estava nos meus planos, como é a 1ª grande prova do ano em continente Europeu e também porque faz parte do World Tour são muitos os atletas que a elegem. Uma grande parte da "nata" do trail running mundial desloca-se para ilha das Canárias em Março. Eu este ano também iria estar presente, e a expectativa era alta.

5ªF - Chego a Maspalomas local onde estava localizada a Expo e também seria a chegada da prova. Fui directamente do Aeroporto para a Expo a fim de levantar o dorsal, lá chegado encontro o Nuno Silva que também tinha chegado à pouco e fazia o mesmo, tudo correu normalmente para uma prova desta natureza, algum tempo de espera mas nada fora do normal, no saco além do dorsal também vinha um buff e t-shirt. Feito isto fomos jantar ao local da pasta-party, era um espaço ao ar livre, a temperatura era agradável naquele final de tarde, a qualidade da comida também era boa, até esta altura as indicações eram que seria uma prova em que tudo estava pensado.

Acabado o jantar eu e o Nuno íamos ficar juntos no mesmo apartamento começamos a odisseia de a pé procurar o aldeamento, depois de uns 3/4 km e com alguma ajuda lá chegamos, entretanto recebo uma mensagem da Ester que o voo que vinham estava muito atrasado, e que só chegariam perto da meia-noite. E assim foi, chegaram os restantes companheiros de apartamento o Ivo Morais e a Ester, num outro apartamento ficou o Nelson Sousa, o Paulo Reis e a Anabela Rodrigues.

Entretanto tínhamos encomendamos comida para os 5, para que quando eles chegassem não tivessem essa preocupação e poderíamos descansar todos o melhor possível, já que no dia seguinte era dada a partida da prova.

6ªF - Dormimos até o mais tarde possível, se assim se pode dizer, e depois do pequeno almoço tomado fomos novamente para a Expo pois havia quem ainda não tinha levantado o dorsal.
Depois de uma volta agradável pelo passeio marítimo de Maspalomas com um sol quente, já tinha saudades de passear de chinelo e calção, combinamos almoçar por ali numa pizzaria, nesse almoço juntou-se-nos o Armando Teixeira e o Carlos Sá, e foi com umas pizzas muito boas que fizemos o estagio pré-prova.
Passeio marítimo 

Depois do almoço foi hora de regressar aos apartamentos para descansar. Era importante dormir um bocado, a noite ia ser longa, consegui dormir cerca de meia hora. Ao final da tarde nova encomenda de pizzas e massas para o jantar antes de sairmos para os autocarros que nos levariam até à linha de partida.

Combinada a hora para sair, o Paulo e a Anabela tinham alugado carro, lá fomos todos para o local onde iríamos apanhar o autocarro, lá chegados não vimos ninguém e um elemento da organização diz-nos que os autocarros já tinham saído todos, ficamos a olhar uns para os outros e agora....ou a Anabela nos iria levar de carro à partida pois ela ia fazer a maratona que só saía no outro dia de manhã ou tínhamos de ir de táxi, o que seria desagradável, pois eram quase 100km de distância.
Em conversa por rádio o tal sujeito da organização diz para quem estava do outro lado que estão ali 5 portugueses para ir para Agaete, e lá nos manda ir a correr para um autocarro para estava umas centenas de metros mais à frente, o que isto provocou é que alem do susto fomos os 5 sozinhos num autocarro, o que deu para descansar mais 1 horita, acabou por correr melhor do que esperávamos.
"Os cinco"
Chegados a Agaete estava um vento forte e frio, fomos obrigados a vestir impermeável e como já faltava pouco tempo fomos logo para a zona de partida e de controlo, lá dentro com toda a gente junta já se estava bem.

Partida - A saída da prova estava marcada para as 23h, e assim foi, cerca de 670 atletas reunidos para atravessar a ilha de volta a Maspalomas, seriam 128km com 17.000 metros de desnível acumulado, não me costumo referir ao desnível acumulado mas nesta prova também seria importante não exagerar nas longas, técnicas e perigosas descidas.
Cumprimentos finais e desejos de boa prova entre quase todos os Portugueses presentes, pois aqui parte toda a gente junta, lá saímos num ambiente muito bonito onde com música e uma enorme projecção dão um colorido fantástico.
Comecei a bom ritmo pois sabia que chegados ao single track era importante estar bem colocado, as sensações eram muito boas na parte inicial, e os primeiros 10km são sempre a subir, conseguia correr, mas apesar das boas sensações ainda era muito cedo e preciso "resfriar" os ânimos, assim levantei ligeiramente o pé e fiz descer a FC, faltava muito e com muita dificuldade.

A noite estava agradável de temperatura, só umas rajadas muito fortes de vento pareciam que iam deitar as árvores ou troncos a baixo, tinha a impressão que a qualquer altura levava com qualquer coisa.
Por volta dos 20km comecei a ter uma sensações esquisitas de mau estar, nunca até à altura em qualquer prova tinha tido problemas de estômago, mas parece que ia ser o dia. A fast food comida nos 2 últimos dias estava a fazer efeito, e logo eu habituadinho a comida caseira e saudável. Chegado ao posto dos 33km, tomei o 1º Imodium mas as sensações eram más, nesta altura tinha a desistência na cabeça se não conseguisse melhorar, as forças estavam a ser levadas e depois da 2ª paragem no meio da montanha cerca do km 38 quase que nem em plano conseguia correr, estava a desidratar e não conseguia comer nada. Em Fontanales era o 4º posto ao km 43 tomei o 2º Imodium e forcei a comer pão que mais parecia pedra, banana com aspecto duvidoso e amendoim, entretanto por esta altura recebo um telefonema de casa e digo que se continuar assim no próximo posto desisto, os incentivos e os Imodiums fizeram efeito e a partir daqui começo progressivamente a sentir-me melhor.
Ao chegar ao posto de Teror sabia que ia ter a grande dificuldade pela frente, era uma subida de cerca de 10km com muitos degraus e de inclinação acentuada, tinha de sair bem alimentado pois a subida ia ser longa e dura, só que os postos de abastecimento nesta prova deixaram muito a desejar.

Em todos eles as opções não eram muitas, só tinham banana e laranja de frutas, alguns marmelada e gomas ou chocolate, pão duro como pedra, cubos de queijo e fiambre que com aquele calor nem arrisquei a meter na boca, de bebidas água, coca-cola e em alguns água com cheirinho de isotónico. Só no abastecimento principal que estava ao km 80 havia massa, estava mal habituado, pois nas últimas 2 provas que tinha feito quer o CCC quer a Diagonal des Fous não havia comparação, aqui nas canárias foi muito mau. Voltando à prova e à longa subida de cerca de 10km o que me valeu foi ter levado uma dose de Cerelac, juntei água e foi a minha sorte, no fim da subida as sensações já eram boas, as forças tinham voltado e o objectivo era terminar o mais rápido possível, queria fazer top 100 e abaixo das 20 horas e era por isso que ia lutar.
Chegado a Garañón posto onde tinha assistência (saco), optei por só trocar de meias e comer uma massa e hidratar muito bem, paragem rápida pois estava dentro do tempo para baixar das 20h, demorei cerca de 10/15 minutos e segui, nesta altura já recebia informação que estava bem dentro do top 100, e esse objecto a 40km da meta estava praticamente cumprido, faltava o de baixar das 20h, a organização da prova tinha anunciado que os atletas que fizessem menos de 20h tinham um prémio extra, nesta altura era este o meu principal objectivo.
Sabia que depois de Tunte havia uma última subida mas nada de especial e seria quase sempre a descer até à meta, e assim foi. Fiz a subida a bom ritmo e muita dela a correr, só não contava depois que a descida ia demorar quase tanto tempo como a subir, empedrado numa fase inicial, depois muita pedra grande solta, nesta altura sabia que se a descida fosse normal chegava dentro do tempo, mas não contava com tanta dificuldade e risco na parte final, o terreno era em single track com enormes godos e cascalho sempre com um precipício de um dos lados, aliás toda a prova o terreno era árido, com muito pó e feio, as paisagens nada de especial, água, rio, ribeiros, ou pocinhas nem ver. Não contava com uma prova assim, só mesmo na zona do Roque Nublo foi agradável, aliás em quase toda a prova haviam percursos marcados mas nunca vi ninguém, só mesmo na subida e descida do Roque Nublo se viu turistas, o que explica alguma coisa.  
Mas voltando à descida foi aqui que perdi a hipótese de fazer menos de 20h, demorou muito tempo e era difícil de ultrapassar os atletas que seguiam à frente, quer os que faziam os 83km, quer os da Maratona. Quando chego a Arteara, a 19km da meta, apenas tinha pouco mais de 1h para os fazer, a descida de mais de 10km tinha-me retirado o objectivo 20h. A partir daqui era tentar rolar até ao final, sabia que a prova estava feita mas já não havia objectivo e assim "cai" bastante, foi um arrastar até ao final. De seguida entramos num estradão poeirento e quente que nos levou ate à entrada de Maspalomas e do rio seco, canal este que foi um autêntico pesadelo, enorme recta,talvez com cerca de 4/5km e em pedra irregular, onde muita gente ia a passo, saídos do rio e para terminar já no passeio marítimo de Maspalomas entramos pela praia dentro, só faltava correr na areia, quase que enterrava, que maldade, depois foi a recta final até à meta onde o Depa já famoso speaker deste tipo de eventos fazia a animação habitual. Terminada a prova com os aplausos e incentivos do speaker foi receber o colete e medalha de finisher. Estava feita a Transgrancanaria em 20.51h, o que deu o 72º da geral e 22º do escalão.

No final o desgaste era grande, estava cheio de sal, quer no rosto, quer na roupa, desidratado mas satisfeito por concluir mais um objectivo.
Depois fui ter com a Anabela que já tinha terminado a Maratona numa excelente prova e estava na zona da pasta-party a comer, eu não tinha apetite nenhum e optei por não comer nada, quando cheguei ao apartamento já lá estava a Ester e o Nuno, a Ester tinha feito 6ª lugar, grande resultado, e o Nuno tinha acabado junto ao Armando também num bom registo.
O Nelson, o Paulo e o Ivo também terminaram a prova e assim sendo éramos todos finisher de uma durríssima prova. Destaco também o 7ª lugar da Lucinda (2ª do escalão) e o 2º lugar do Carlos na Maratona, muito bom.

Parabéns a todos os Portugueses presentes nesta aventura.

Uma palavra para os voluntários presentes durante o percurso e na expo, fantásticos!!!!

No dia seguinte foi para tratar as "feridas"contar as peripécias e despedidas para o regresso a casa.

Venha a próxima que será o Peneda-Gerês Trail Adventure 8 dias\8 etapas = 280km













9 comentários:

  1. Descreves muito bem a dureza da tua prova. E tu, com todos esses constrangimentos, foste uma verdadeira máquina. Aquela descida de Tunte... Ainda hoje tenho dores no joelho esquerdo quando me lembro dela!! :)))
    Muitos parabéns, Pedro! Como nos tens habituado, mais uma excelente prestação!

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  2. Gracias ;) mas o mais importante foi terminarmos todos o desafio que tínhamos pela frente :)

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  3. Grande Pedro...tás um maquinão e mai nada!!! Muitos parabéns por mais uma grande prova superada, cheia de dificuldades ao inicio mas a acabar em grande, e por uma excelente classificação...venha de lá a próxima então!!!
    Grande abraço e força nessas canetas

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    1. Obrigado amigo!!!
      Continua também a publicar as tuas "aventuras" que é um prazer ler.
      Que os 2º trilhos do perneta corram muito bem, não posso estar presente porque estou na prova dos 8 dias no Gerês! Abr

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  4. Parabéns campeão. Provavelmente mudei a minha intenção de participar nesta prova, obrigado pela partilha. Abraço.

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  5. Mais um desafio concluido com sucesso. Parabéns!
    O teu relato está excelente e faz-me pensar se vale a pena o "investimento" de voltar a participar.
    Abraço
    Telmo

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  6. és cronista
    azimutes agora para o UTMF, espera por ti

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